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domingo, 29 de setembro de 2013

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Escrever o teu nome ao contrário. Dizê-lo de trás para a frente sem me engasgar. Repetir uma vez. Repetir outra vez. Ouvir a chuva a embalar-me. O vento a abanar tudo lá fora. Uma orquestra de sons outonais. Imaginar-te em tons de castanho, amarelo, roxo, vermelho, laranja. Imaginar-te a oscilar como as folhas secas nas árvores, prontas a cair. Tu a aterrares suavemente nos meus braços. Escrever-te nas cores do Outono garrido que acontece lá fora: ao contrário do Verão que és. Tu ainda bonita. Tu sempre bonita. Vejo-te feita dos pingos de chuva. O teu cheiro a confundir-se com o cheiro da terra molhada. Imagino-te a sorrir com esta última frase porque disse que cheiravas a terra molhada. Aposto que achaste que estava a ser depreciativo. Não estava. Tinha saudades do cheiro a terra molhada, assim como tenho saudades tuas. A saudade é o sentimento de amar um amor ausente. É o espaço que fica entre nós. Cai um Outono de ventos e chuvas e amores, lá fora. Gostava de estar ao teu lado para te poder abraçar. Sei que tens medo dos temporais. Não tenhas medo. Abraça-me – ou sonha que me abraças. Eu protejo-te. Palavra de honra que protejo. Mesmo estando longe, mesmo não estando aí, eu protejo-te. Não me perguntes como, que não te sei responder. Nestas coisas não há uma explicação lógica. Não há Física que chegue para explicar o amor. Nem espaço grande o suficiente para me afastar de ti.

 

Que o tempo continue a passar
Que as estações continuem a mudar
Que nós continuemos assim
Parados num momento
Só nosso.

Nosso

 

PedRodrigues

sábado, 21 de setembro de 2013

Ensaio sobre o medo de não escrever


Todos os momentos singulares me trouxeram até aqui. Aqui estou. Olho para trás e percebo cada segundo vivido, cada escolha feita, cada caminho não percorrido. Penso para mim

-E se...

Relembro os passos em falso. Relembro as consequências de vários erros. Relembro as lágrimas dos insucessos, os nervos dos quase sucessos, o caos dos falhanços à queima roupa. Todos os momentos singulares me trouxeram até aqui. Todos os murros me trouxeram até aqui. Aqui estou. Cerro os dentes, esperneio um pouco, olho o grande plano que me está reservado. Corre-me sangue nas veias. Correm-me sentimentos no papel. Sou um produto inacabado. Sempre serei. Serei sempre. Deixarei para trás um arquipélago de palavras e de noites mal dormidas. Às vezes dou por mim a pensar

-E se tiver perdido a capacidade de criar?

Imagino-me um Hemingway debruçado sobre um mar de textos antigos, de arma na mão à espera de uma intervenção divina: a escrita, ou a morte. E ao imaginar esse cenário compreendo que escrever é o acto de morrer e viver através das palavras. É o acto de exprimir os sentimentos, despertar os corações mais adormecidos. Escrever é dar vida aos que se julgam mortos. É dar voz a quem se julga mudo. É dar a mão a quem se sente sozinho. Escrever é isto. Escrever é estar aqui, com a televisão em silêncio a dar-me luz, enquanto passo a limpo aquilo que sinto. Escrever é estar aqui. Aqui estou. Espero estar sempre. Este é o caminho

-E se não for?

Este é o caminho. Esta é a ordem natural das coisas. Escrever. Escrever palavras. Escrever silêncios. Mesmo quando a mão teima em estar paralisada. Mesmo quando a mente teima em ficar vazia. Mesmo quando a inspiração me manda à merda. Todos os momentos me trouxeram até aqui. E neste momento em que me encaro a mim mesmo, no meu estado mais vulnerável, dizer-me

“Ontem não te vi em Babilónia e hoje gostava muito de te lá ver.”

 

PedRodrigues

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Porto - Coimbra


12:57

Bom dia meu amor. Como estás? Tenho saudades tuas. Adoro-te

12:59

Bom dia pequenina. Sonhei novamente contigo. Daqui deste lado as saudades também apertam. Estou bem, mas estaria infinitamente melhor se acordasse contigo ao meu lado. Adoro-te

13:04

Sonhaste novamente comigo? Conta-me.

13:10

Lembras-te das fotos que te mostrei daquele sítio no sul de França? Sonhei que nos tínhamos mudado para lá. Só eu e tu e as águas cristalinas e o os sons de um mundo certo para nós. Sonhei com uma casa e um alpendre com vista para uma marina. Os teus cabelos balançavam levemente com a brisa. Beijaste-me. Eu saboreei o teu beijo. Sentei-te no meu colo enquanto terminava uma frase – não me lembro da frase, só me lembro que queria à força que aquele sonho fosse real.

13:13

Que bonito amor. Adorava mudar-me para o sul de França contigo. Tenho tantas saudades dos teus beijos, dos teus abraços, das nossas conversas de cabeceira, das tuas piadas parvas nos momentos mais inoportunos. Tenho saudades tuas. Muitas, mesmo.

13:15

A distância é uma merda. Uma merda mesmo. Fecho os olhos sempre na esperança que ao voltar a abri-los ela já tenha diminuído ou desaparecido, mas ela continua lá.

13:17

Detesto a distância. Detesto estar longe de ti. Detesto!

13:20

Calma amor. Já falta pouco para voltarmos a estar juntos.

13:25

Esse pouco parece demorar tanto... Tenho de ir almoçar, amor. Beijinho

13:27

Beijinho meu amor! Bom almoço!

14:02

Já almocei. Que fazes?

14:03

Tento escrever.

14:05

Continuas bloqueado?

14:09

Continuo. Não sei que se passa comigo: sempre que me sento para escrever sinto-me vazio. Escrevo um pouco, depois apago, recomeço, apago. Não sei que se passa. Tenho medo de ter perdido o dom. Juro-te que tenho medo. Sinto-me um inválido em termos criativos. Nada. Zero. Nem a ponta de um corno. As palavras parecem fugir de mim a sete pés. Não sei que faça para desbloquear...

14:11

Eu sei o que te falta...

14:12

Tu.

14:15

Exactamente. Falta-te a tua musa.

14:18

Pois falta. Mesmo sabendo que a tenho – ou melhor: que te tenho. Mesmo conhecendo cada contorno do teu corpo. Mesmo sabendo todos os teus tiques e reacções. Fazes-me falta. Fazes-me muita falta.

14:24

Não penses que sou só eu que te faço falta a ti. Tu também me fazes muita falta a mim. E eu não tenho a capacidade que tu tens para te expressares. Às vezes acho que não te consigo demonstrar tudo aquilo que sinto por estar tão longe. Por não ter o dom da palavra. Tenho medo que não entendas e te deixes perder.

14:29

Só há uma forma de me perder: em ti. Eu sei que gostas de mim e sei como gostas de mim. As palavras escondem sentimentos e isso não depende da forma -  mais ou menos complexa - como são escritas. Não precisamos de escrever grandes obras literárias para que entendam o que sentimos. O amor também está nas coisas simples. E eu adoro a forma simples como as tuas palavras me vão mostrando o quanto gostas de mim.

14:33

Estúpido. Oh, fizeste-me corar.

14:34

Adoro

14:35

Te

14:37

E eu a ti, meu amor.

14:40

Vou estudar, amor. Vais sair?

14:42

Vou até à praia e depois volto à minha luta.

18:53

Amor?

18:54

Sim

18:57

Como correu essa luta? Venceste?

19:00

Acho que ganhei o primeiro assalto. Vamos lá ver se isto continua.

19:02

Claro que sim! Entretanto podes dar-me beijinhos?

19:03

Quantos queres?

19:04

Muitos.

19:05

Infinitos beijinhos, namorada.

21:03

Estou mesmo a morrer de saudades tuas. Fazes-me tanta falta.

21:18

O espaço que nos separa é proporcional ao amor que nos une. Às vezes acordo de noite e vejo que não estás. Fecho os olhos e tento abraçar o vazio ao meu lado. Sinto um arrepio miudinho na barriga porque sei que não estás. Mesmo que imagine com muita força, ou peça com muita força, tu não estarás. Sei que desse lado tu fazes o mesmo, e isso reconforta-me um pouco. Partilhamo-nos à distância e namoramos à distância, mas o nosso amor não diminui. Somos o reflexo um do outro. Existiremos enquanto plural porque os reflexos não existem por si só. Espero, ansioso, pelo dia em que esta distância que nos separa seja apenas uma recordação. Já falta pouco, eu sei e tu também sabes. Compensamos depois o tempo perdido. Temos o resto das nossas vidas para o fazer.

21:19

Adoro-te!

00:17

Amor vou dormir.

00:19

Vou escrever mais um pouco e depois vou ver um filme para adormecer.

00:20

Abraça-me

00:21

Sempre.


PedRodrigues