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quarta-feira, 30 de maio de 2018

Entre a vida e a morte, eu escolho a liberdade

Vida: Princípio de existência, de força, de entusiasmo, de actividade (diz-se das pessoas e das coisas) (…)



Não querendo atirar pedras ao rio a fim de gerar ondas - maiores ou menores - este referendo em relação à eutanásia vem escarnar um dos pilares sobre os quais a nossa existência assenta: a dicotomia vida/morte. Como em muitos outros temas, as pessoas escolhem um lado ou outro, defendendo com unhas e dentes a sua posição. Os defensores do não dizem que estão do lado da vida, acusando os defensores do sim, mesmo sem o dizerem, de serem defensores da morte. Os defensores do sim dizem que estão do lado do progresso, da razão, acusando os outros, mesmo sem o dizerem, de serem seres retrógrados, defensores de um estado laico. Não é então de estranhar que nos canais de televisão, em que os debates se multiplicam que, de um lado se metam padres, defensores dos ensinamentos da igreja, do não, e do outro os médicos, defensores da ciência, do sim. Este cenário remete-me para os tempos medievais: Igreja vs Ciência. 
No centro de todo este imbróglio, porém, está aquela que, para mim, é a questão central: a liberdade de escolha. 
A despenalização da eutanásia não é a abertura das câmaras de gás de Hitler (perdoem a analogia). Não vamos, com isto, criar um monstro. Não vamos matar as pessoas de início porque estão doentes. Não. Caso a pessoa esteja num estado de agonia tão grande que viver se torne um martírio, que cada minuto de vida seja mais uma súplica que a morte chegue, de tão grande o sofrimento, VAMOS DAR-LHE A LIBERDADE DE ESCOLHER. Isto poderá parecer uma enorme afronta ao não, mas não é. Pensemos a um nível elementar: qualquer célula luta pela sobrevivência. A sua formatação é essa. Sendo nós conjuntos de células, qualquer um de nós luta por sobreviver. A vida é uma escolha que fazemos inconscientemente*. Mas sendo nós seres conscientes, com capacidade para sentir, com capacidade cognitiva para perceber que a morte é inevitável, não devemos nós, enquanto seres conscientes, cientes do inevitável fim, vivendo num estado de agonia tão grande devido às falhas do nosso organismo, ter a possibilidade de escolher? Isto não é ser pró-vida, ou pró-morte. É ser livre. 


*Neste ponto poderiam referir a elevada taxa de suicídios que existe. Mas essa taxa é criada por distúrbios do foro psicológico, não fisiológico. E a questão na eutanásia remete-nos para distúrbios fisiológicos do corpo humano, e não psicológicos. Não confundamos as coisas. 

Pedro Rodrigues