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domingo, 21 de setembro de 2014

Corolário destes dias sem ti


E no final todos somos passado guardado em caixas. Enterrados debaixo de sete palmos de entulho amoroso. No final, nada. Fica o gosto salgado das lágrimas choradas, os papos e as olheiras. Uma tristeza miudinha. Uma esperança abafada daquilo que podíamos ter sido e acabámos por não ser. No final não há tempestade. Já lá vai. Passou. Ficam as vozes que ainda ecoam por dentro, que não se calam, que nos acompanham durante as noites de insónias. Ficam as memórias gravadas nos espaços que partilhámos juntos. Eu marquei-te e tu marcaste-me. Os espaços nunca mais serão os mesmos. Nada fica igual e, no entanto, nada mudou. Li uma vez que o amor é uma força interior. É verdade. O amor remexe-nos por dentro. Constrói, ou destrói. Mas tudo por dentro, nunca por fora. O amor, como amor, não tem força, por si só, para construir, ou destruir castelos e cidades. No entanto, pode mover os homens a fazê-lo. E foi isso que nos aconteceu. Fomos remexidos por dentro. Nada está no seu lugar. Apesar de parecermos os mesmos, por fora, – tirando uma ou outra ruga; uma ou outra olheira – estamos estilhaçados por dentro. Agora somos passado guardado em caixas. Algo que julgamos estar mudo, num canto, para sempre. Mas o passado não se cala. Pode falar baixinho, às escondidas, mas não se cala. Pelo menos, por enquanto. Pelo menos enquanto esta ferida que arde por dentro não sarar. No final não há tempestade. É isso que mais me assusta.

 

PedRodrigues

Alguém passe isto no noticiário das oito


Tenho para mim que o melhor serial killer de sempre é o amor: já matou tanta gente e nunca cumpriu um dia de prisão.

 

PedRodrigues

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Timing


Não creio que a felicidade se tenha esquecido de nós. Talvez seja uma questão de timing. Mais tarde, quem sabe? A vida tem esta mania sádica de destruir o que é bom. Resta-nos a persistência, o engenho, a calma. Podemos chorar – devemos chorar, ora essa – esbracejar, espernear, berrar. Partir a loiça toda. Podemos passar noites em branco a recordar o que era bom, o que nos unia. A indagar os porquês e a procurar soluções. Sonhar um com o outro: o que podíamos ter sido. O que podemos ser. Mas tu estás aí e eu estou aqui. Separados por quilómetros e horas. Por espaço e tempo, que não encurtam com a nossa vontade. A vida é uma merda. Eu sei e tu também sabes. É um campo de batalha e só quem luta acaba por vencer. Deste lado eu vou lutando. Desse lado também lutas. Não te peço que esperes por mim, assim como não me pedes que espere por ti. Há caminhos que precisam de ser percorridos. Os caminhos são feitos por quem os caminha. Amar significa deixar que o outro faça o seu caminho, mesmo que esse caminho não seja o nosso. Sei que custa, mas o amor é um tipo fodido. Nada a que não estejamos habituados. Somos uns guerreiros do caraças, não somos? Talvez tudo isto seja apenas uma questão de timing. Ou um erro de julgamento dessa força dinâmica que mete ordem no mundo. Há que ter paciência. Se tiver que ser, será.

Não creio que a felicidade se tenha esquecido de nós.
Digo e repito.

 

PedRodrigues

domingo, 7 de setembro de 2014

Poema a quente


Olhei em volta e não te vi
O meu copo teimava
Em desaparecer
Pedi outra bebida e
Esperei
Mas não sabia
Se irias voltar
Olhei o relógio
E percebi:
Era tarde e não ias regressar
Perdi-te e nem percebi
Que viver sem ti
É querer-me matar

 

PedRodrigues