Páginas

sábado, 27 de outubro de 2012

O que vou sabendo sobre as mulheres...


São as mais fantásticas criaturas do universo e nós temos a sorte de partilhar o mesmo espaço que elas. No entanto…
São umas chatas do pior e não nos deixam ver o futebol em paz. São bipolares como o caraças e nunca estão satisfeitas com nada. São mestres do disfarce: têm sempre uma máscara para quem não gostam. Têm opinião sobre tudo, mesmo quando não entendem nada do assunto. Conseguem engordar-nos de mimos ao jantar e matar-nos de problemas ao deitar – ou vice-versa. São estranhas, problemáticas, caóticas. Metem o dedo na ferida como ninguém, e se possível vão até ao osso. Têm prazer em ver-nos sofrer quando estamos doentes, ou quando teimam em nos espremer as borbulhas e os pontos negros

-Tem calma, está quase

(De sorriso sádico na cara)

- Não sejas maricas

Enquanto nós, por outro lado, nos vamos contorcendo no meio de toda aquela carnificina. Para elas somos uns piegas, uns meninos da mamã, uns mariquinhas pé de salsa. Somos um compêndio de defeitos e coisas más. Nunca estamos bem, mesmo quando estamos bem. Nunca estamos no sítio certo, mesmo quando estamos no sítio certo. Não as compreendemos, nem temos um pingo de compaixão por elas. Não lhes distinguimos o

-Não…

Quando o

-Não…

Quer dizer

-Sim!

Trocam-nos as voltas com uma facilidade sobrenatural. Acabam onde começam e começam onde acabam. Amam-nos quando somos bons e não deixam de nos amar quando somos maus. Choram de alegria e sorriem de tristeza. São estranhas. Tanto nos esmurram o peito, como se aninham no nosso ombro. Olham-nos com vontades homicidas quando nos enganamos em coisas triviais. Mutilam-nos mentalmente quando nos esquecemos de coisas banais. Para nossa sorte gostam de artigos defeituosos. Queixam-se que se danam. Berram, insultam, esbofeteiam, esperneiam. Caminham sempre no limbo entre a bonança e a tempestade. São perfeitas nos defeitos e nós pecamos por não lhes dizer que o são. Trabalham numa frequência diferente da nossa, mas procuram sempre a sintonia. Esbofeteiam, esperneiam, berram e insultam. Felizmente para nós acreditam em histórias de princesas. Infelizmente para elas, nem todos os sapos escondem um príncipe. Inventaram aquele momento em que os olhares se misturam e os lábios tremelicam, aquele momento em que no meio de beijos e abraços, faça chuva ou faça sol, solta-se um

-Amo-te

Abafado entre lágrimas e sorrisos e um silêncio apavorante.

(Na expectativa de um

-Eu também te amo)

Inventaram os amores de cinema, de telenovela e da vida real. Inventaram o amor, ou o amor foi inventado a partir delas. Felizmente para nós, gostam de artigos defeituosos. Talvez por isso se diga que todos os cães têm sorte.

PedRodrigues


quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Carta de agradecimento à família TEDxCoimbra 2012


Tive o prazer de, no dia vinte deste mês, participar no TEDxCoimbra. Vou-vos ser sincero: no momento em que recebi o convite da Ana, fiquei um pouco espantado. Li a mensagem duas ou três vezes até ter a certeza que todas as letras estavam no lugar e nada tinha aparecido do ar. Respirei fundo e sorri. Respirei novamente e o sorriso não desapareceu. Liguei de imediato à minha namorada – agora ex-namorada - e contei-lhe a novidade. Sentia-me a explodir de alegria e o meu corpo era a prova viva disso. Respondi à mensagem um pouco relutante. Pensava para mim: “será que eles têm noção que eu tremo só de ouvir a palavra “palco”?”. No entanto, o desafio era demasiado grande, demasiado desafiante e demasiado bom para ser recusado. Propus-me a subir a um palco e falar  para duzentas pessoas sobre aquilo que trazia cá dentro.
Nos meses que antecederam o grande dia, dei por mim a imaginar-me a falar para multidões. A inventar cenários desastrosos – uns mais que outros. Como descalçar esta bota? Como pegar numa plateia de pessoas cultas e levá-la ao êxtase? Tudo se tornou ainda mais apavorante quando recebi a lista de oradores que iriam falar no evento. Os nomes eram enormes e eu era tão pequeno no meio deles. Engoli em seco e comecei a minha jornada de preparação mental. Falei com os meus pais sobre o assunto e recebi deles a primeira injeção de confiança. É incrível como os pais nos conseguem projetar a quilómetros daquilo que imaginamos ser. Decidi descansar um pouco da ansiedade e deixei-me ficar abrigado num nirvana onde o TEDx era apenas uma miragem.
Os dias passaram a correr até ao mês de Outubro. Durante esse período recebi todo o apoio e confiança por parte da Ana e do Frederico. Foi incrível sentir como aquelas pessoas, que até ao momento eram-me completamente desconhecidas, e com as quais não tinha tido qualquer contacto físico, depositavam tanta esperança em mim. Não sei como faziam, mas à maneira deles lá iam matando as inseguranças que me atormentavam.
No dia dezanove – algumas horas antes do grande momento – tive a felicidade de conhecer o resto da família TEDxCoimbra. E é esta a palavra certa para os descrever: família. No seio daquele conjunto de pessoas há amor e carinho e um enorme respeito que não passa despercebido a quem tem o prazer de os conhecer. Ali há entrega e paixão: desde o elemento mais novo – o pequeno Tomás – ao elemento mais velho. Todos trabalham pelo objetivo comum: criar um evento sem barreiras físicas ou sociais. Todos trabalham com um altruísmo imensurável. Desde o primeiro contacto que tive com todos eles que me senti parte daquela família. E quem não gostaria de se sentir parte de algo tão especial?
Nos momentos que antecederam a minha subida ao palco vi nos olhos de todos eles a esperança que haviam, meses antes, depositado em mim. Estava desfeito em nervos. O meu corpo latejava de ansiedade e assim ficou até pisar o último degrau que me levou ao sítio onde falaria. Quando olhei a plateia a minha cabeça voltou a funcionar. Deixei-me naquele sítio. Deixei-me inteiro naquele sítio. Tinha decidido subir sem qualquer apoio. Ser o mais genuíno possível, pois esse é o mote com que vivo e escrevo. Esse era o mote da minha TED Talk. Talvez esse acto ingénuo de subir ao palco – diga-se que pela primeira vez na minha vida – desarmado e sem qualquer tipo de preparação, acabou por ditar o final prematuro da minha apresentação. Mas, naqueles escassos minutos, bombardeei o público com as emoções que guardava dentro de mim. Não tive medo de partilhar tudo o que tinha cá dentro. Acho que, nesse aspecto, ninguém me pode condenar.
Ao descer as escadas e ser abraçado pelo meu pai – que me olhava orgulhoso - ouvi da boca de alguns dos oradores, e outros membros da família, palavras de carinho e de congratulação pela minha prestação em palco. Desde então que os elogios têm vindo a multiplicar-se. Hoje sinto-me um bocadinho maior que há uns meses atrás – não muito, mas um bocadinho – e por isso tenho-vos a agradecer uma vez mais.
Sei que este texto não dirá nada a metade do público que o ler, mas é o agradecimento que precisava de fazer. Um dia fui acolhido por uma família adoptiva. Nesse dia o meu pai esteve lá e constatou esse mesmo facto. Também ele me pede para vos agradecer. Obrigado à família TEDxCoimbra: organização, oradores e performers (não meterei nomes, pois corro o risco de me esquecer de alguém.). Obrigado ao público presente. E como vos disse naquele dia tão especial: “Não tenham medo de ser felizes. Encontramo-nos por aí…”

PedRodrigues

domingo, 21 de outubro de 2012

A janela


Sabes aquele arrepio no estômago de cada vez que passas à janela dela? Ainda não desapareceu.
Hoje ainda me sinto feito de vento de cada vez que lá passo. Torturo-me, arrelio-me, combato-me, mas a verdade é que continuas-me na carne. Quando vais embora?
Não vale a pena fechares a janela. Não vale a pena. Sempre que passo à tua janela, vejo-te acenar. Vejo o meu coração na tua mão: a acenar-me. Amo-te, mas não quero amar-te. Vejo-te, mas não quero ver-te. Os meus tendões contraem-se uns contra os outros de forma caótica. A minha carne – tu – esmaga-se contra os meus ossos. Dóis.  Hoje dóis muito.  E vão passar meses e anos e tu continuarás a doer. Ninguém desaparece do corpo de ninguém. Ninguém se apaga do coração de ninguém. Vivemos marcados pelos estigmas do nosso coração. Eu e tu, tu e eu. Ontem perguntaram-me se era capaz de voltar para ti. Respondi

-Claro que não!

Com toda a convicção do mundo. É estranha esta forma que temos de mentir aos outros quando falamos dos dilemas do coração. É estranha a forma como nos mentimos sempre que o assunto são os dilemas do coração. A verdade é que quero seguir em frente. A verdade é que seguindo em frente tu não estarás. Hoje não estás; amanhã não estarás; depois de amanhã não estarás. A tua janela continua no mesmo sítio, mas tu não. O meu coração continua no mesmo sítio, mas tu não. Se hoje me perguntassem

-Voltavas para ela?

Diria

-Claro que não!

Na esperança que os meus amigos, de palmada nas costas, me reconfortassem com um

-Ela não te merece…

E na minha cabeça tu não me mereces. Na minha cabeça eu finjo que nunca me mereceste. Mas há alturas em que o coração fala tão alto que não conseguimos ouvir nada, nem ninguém. Nessas alturas lembro-me da primeira vez que usei a expressão

-Amo-te

Com todas as letras e sem lapsos. Nesse momento amava-te. Apesar de tudo, ainda te amo. Amo-te porque fazes parte dos estigmas do meu coração. Mas vais desaparecendo lentamente. Eu vou seguindo em frente com a corrente. E a corrente traz sempre coisas belas consigo. Quem me garante que a minha felicidade não está à distância de uma palavra, ou de um olhar indiscreto? Quem me garante que a minha felicidade não me sorriu por aí?
Não sei se me estás a ler, mas… Sabes aquele sorvedouro no peito e aquele arrepio na pele? És tu.

Hoje ainda te amo. Amanhã não sei.

PedRodrigues

(Texto parcialmente escrito durante o TEDxCoimbra)

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

A síndrome de Peter Pan


Um dia crescemos. Um dia esquecemo-nos dos arco-íris e dos foguetões e das estrelas e dos desenhos-animados que passavam na manhã de Sábado. Guardámos tudo num baú e seguimos em frente com a nossa vida. De repente apareceram as miúdas: o primeiro beijo, as primeiras gargalhadas, as primeiras carícias. Depois as miúdas cresceram e tornaram-se raparigas: vieram os primeiros dramas, os primeiros desgostos, as primeiras vontades suicidas e homicidas que julgamos fazer em nome do amor. Nessa altura julgávamos já ter visto tudo, já ter sentido tudo, já estarmos acima de todas as coisas do passado. O amor não tinha segredos para nós. Amar era tão simples como respirar. Nesses dias o amor passeava-se pelas pedras da calçada: em cada olhar indiscreto, ou em cada saia subida. Os primeiros decotes faziam tanto sentido como o amor. Amávamos como amávamos aqueles decotes. As raparigas eram tão simples, mas tão psicóticas: queriam o amor, mas não queriam os rapazes. Naquele tempo, em que para nós o amor era tão simples, amar no sentido feminino da expressão tornava-se na mais terrível das dores de cabeça. As raparigas não queriam os rapazes. As raparigas sonhavam que os rapazes fossem homens. Enquanto que nós, o lado masculino da coisa, sonhávamos ser os mesmos meninos, reformulo: os mesmos miúdos dos primeiros beijos, ou até do Sábado de manhã no sofá, em frente ao ecrã da televisão. Custa-nos crescer, mas lá vamos crescendo e metendo tudo no mesmo baú. Acabamos por esquecer as miúdas e as raparigas e chegamos à conclusão que precisamos de uma mulher. Por vezes demoramos eternidades, mas ninguém nos pode condenar. Somos bichos teimosos; somos bichos cegos; somos bichos lentos. Sofremos da síndrome dos meninos perdidos da terra do nunca. Mas acreditem em mim quando vos digo que acabamos por crescer. Um dia todos nós precisamos de entender o amor. Um dia todos nós precisamos de uma mulher que nos ensine o que é o amor. As miúdas e as meninas e as raparigas acabam por um dia ficar no baú. É impossível doirar a pílula para sempre. Os primeiros amores são algumas das mais bonitas recordações que guardamos, mas nada chega aos calcanhares de um grande amor. Nada chega aos calcanhares do amor que é para a vida: na saúde e na doença, até ao final. Alguns de nós demoram eternidades a entender isto, mas não nos levem a mal. A nossa bússola amorosa é um instrumento complicado: nem sempre o Norte está no sítio certo. Às vezes julgamos que a felicidade é maior se nos esquecermos do tempo e do mundo e das mulheres. Somos, de facto, um bicho fodido. Mas até o mais fodido dos bichos necessita de amor. Se nos acharem dignos: amem-nos pelo homem que somos – e não pelo menino que julgamos ser. Se realmente formos dignos: amar-vos-emos como se deve amar: com o coração e as tripas de fora. Todos acabamos por crescer. Acreditem. Não tenham pressa em nos amar.

PedRodrigues

sábado, 6 de outubro de 2012

À minha futura namorada...


Não sei quem és. Não sei onde estás. Não sei nada sobre ti. Talvez já te tenha visto por aí. Talvez tenha esbarrado contra ti numa esquina qualquer. Talvez tenhamos partilhado olhares, ou até mesmo um ou outro sorriso. Não sei se já falei contigo, ou se virei a falar contigo brevemente. Quem me garante que nunca te toquei? Quem me garante que nunca olhaste para mim secretamente? Às vezes gostava de poder rever a minha vida. Sinto sempre que me escapou alguma coisa. Vivemos tão depressa. O tempo foge-nos pelos dedos. O mundo aparece e desaparece à nossa volta e não damos conta. Às vezes gostava de parar o tempo. Às vezes sonho que o tempo pára e eu te encontro. Onde estás? Quem és? Quando vens?
Sabes, sou um poço de confusões. Sou profundamente defeituoso. Consigo ser uma catástrofe humana, um parque de diversões psicótico e toda uma panóplia de coisas estranhas que tu talvez não consigas imaginar. Como todos os homens, sou péssimo quando adoeço. Entro em prantos desmedidos quando as gripes me batem à porta e sonho com apendicites agudas quando me dói a barriga. Tenho a mania de falar enquanto durmo, mas felizmente não ressono. Não ligues se às vezes parecer ausente: estou apenas a escutar a vida que me rodeia e as vozes que não se calam na minha cabeça. Detesto que me interrompam enquanto escrevo, mas para ti abrirei uma excepção. Não sei se sabes isto sobre mim, mas adoro escrever sobre aqueles que amo. Um dia, se estiveres disposta, escreverei para ti. Escreverei sobre o nosso amor e aquilo que poderá ser o nosso amor. Nunca censures os meus sentimentos. Gosto de amar com as tripas de fora – aliás, quem ama, ama com as tripas de fora. Gosto de me deixar no papel: em cada letra, em cada vírgula, em cada ponto. Se me permitires, escrevo-te de mãos dadas comigo em todos esses textos. Não te prometo os grandes gestos utópicos dos filmes de Domingo à tarde. Prometo-te os pequenos gestos. Aqueles simples, mas reais e honestos: puxar a cadeira para te sentares, olhar-te sempre com ternura, fazer-te sorrir quando o mundo pede que chores, beijar-te ao adormecer e beijar-te ao acordar. Prometo-te tudo o que posso prometer. E no entretanto entre essa promessa e a realidade, prometo ficar a ver-te crescer em mim, enquanto eu me vou incrustando em ti.
Vou ser sincero contigo: hoje o meu coração está feito em pedaços. Se realmente estiveres disposta a embarcar nesta viagem comigo terás de colar todos os bocadinhos. Não será fácil. Acredita em mim quando te digo: não será fácil. Conheço demasiado bem o meu coração. No entanto, se realmente fores digna, se realmente fores a metade certa, não desistirás de o fazer. Há uma coisa que sempre disse: o amor não foi feito para aqueles que desistem. Aliás, o amor é um sentimento que gera uma sensação de eternidade. E nessa eternidade o mundo pode parecer-nos estranho, mas nós estaremos sempre certos um para o outro.

Quem és?
Onde estás?
Quando vens?

Ainda não te conheço, mas já te escrevo.

Pedro 

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

O dia em que quis vender o meu coração


No dia em que meti o meu coração à venda percebi que ele vale pouco ou quase nada. Disseram-me que os corações partidos não valem tanto como os outros.

-Quem quer uma coisa partida?

 Mostraram-me as modas atuais: os corações de pedra, os corações de ouro, os corações à prova de bala, e toda uma infinidade de derivados do coração que eu desconhecia totalmente. Expliquei-lhes que o meu não era de ferro, que não era de ouro, que não era à prova de bala e que sangrava como os outros. Riram-se de mim.

-Quem quer uma coisa estragada?

A verdade é que ninguém quer um coração estragado e eu não quero o meu coração. Não o quero. Aleija-me, magoa-me, mói-me, irrita-me. Estou farto do meu coração. Juro que estou farto. Parece que não aprende. Aliás, não aprende mesmo. Bate por tudo e por nada e às vezes acelera sem razão aparente. Acelera, acelera, acelera… Até ao ponto em que fatalmente acaba por se despenhar. Depois estilhaça-se por todo o lado: um bocado ali, outro bocado acolá e eu a apanhar os cacos. A colar tudo de novo. A colar tudo como se desta vez fosse para sempre. Nunca é.
Um dia destes falaram-me de alguém que plantava corações.

-Ninguém planta corações

Todos plantamos corações, mas nem sempre nascem os amores que queremos. Há quem os plante em conjunto e os deixe crescer em conjunto e durante esse processo os corações amam-se. Não há nada mais belo que um coração cheio de amor. Não há nada tão doloroso como um coração partido por amor. Às vezes esquecemo-nos que para dar o nosso coração, temos de receber um coração em troca. Nem todos estamos preparados para ver as coisas como elas são. Mas o mundo está aí, está à vista de todos e mesmo assim teimamos em olhar para ele e não o ver. Os nossos corações são tão cegos como os nossos olhos. Gostamos de acreditar no amor cego. E que amor será mais cego que o amor das coisas belas? O amor que é Amor vem do coração, mesmo dos corações que estão estragados, despedaçados, partidos, ou estilhaçados. O amor vem maior desses corações.

-Quem quer um coração desfeito?

Ninguém quer um coração desfeito, mas a verdade é que o mundo é feito de corações desfeitos. Até os corações de ferro um dia acabam por enferrujar. Um dia o meu coração partido será um coração chagado e nesse dia estarei disposto a deixá-lo acelerar de novo. Hoje estou fulo, irritado, mal-humorado. De maneira que hoje apetece-me vender o meu coração. Ele até pode não valer muito, pode até não valer nada, pode não ser de ferro, ou de ouro, ou outra coisa qualquer, mas não o vendo ao desbarato. O nosso desejo de amor é insaciável, mas nem por sombras ofereço (novamente) o meu coração.

PedRodrigues

(Crónica da edição de Novembro da revista Algarve Mais)