Páginas

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Um desabafo, ou lá o que é


Ficar por aqui a ouvir-te de passos mudos pelo corredor deixa-me sempre inquieto. Ainda me lembro quando os dias eram só dias e passavam por mim como dias. Ainda me lembro do tempo que caía lá fora de gota água em tempestade, do vento que assobiava nas frechas das janelas enquanto eu me ficava por aqui. Era triste por aqui. Era pequeno por aqui. Era nada por aqui. Plantava corações à laia de quem espera que nasçam amores perfeitos. Mas nada era perfeito, aliás era tudo quase perfeito e eu berrava de garganta em riste à procura que o mundo me dissesse alguma coisa. O mundo continuava calado a girar no seu eixo, ignorando que eu, pequeno, também fazia parte dele e precisava de uma explicação. Era tudo quase perfeito e nesse limbo entre a perfeição e a imperfeição as coisas não eram mais que coisas, nem as pessoas mais que pessoas e eu sentia-me incapaz. Da varanda olhava a rua e na rua pessoas passavam por pessoas e não se olhavam nem se viam, como se cada um existisse sozinho neste mundo. Que coisas somos nós, que todos os dias nos inquietamos pela nossa insignificância e não somos capazes de perceber que afinal não estamos sozinhos, que afinal fazemos parte de algo plural e não somos cada um por si. Que coisas somos nós que almejamos a ser mais que o sol, mais que as estrelas e não entendemos que não brilhamos sozinhos, sem que alguém nos acenda. Andamos por aqui. Arrastamo-nos por aqui. Desesperamos por aqui e não somos capazes de descer do nosso cavalo, dar a mão ao próximo, ou marcar humildemente a nossa posição. Preferimos passar invisíveis uns pelos outros a olhar-nos ao espelho a brilhar. Ficar por aqui a ouvir-te de passos mudos sempre me inquietou. Vieste de onde vêm as coisas que me fazem bem. E num dia de sol, como astro a brilhar no céu que és, iluminaste-me. Hoje todos me vêem graças a ti. Tornaste-me especial, ou no meu peito eu sinto-me especial e no teu sorriso tenho a certeza. O mundo pode passar despercebido por nós, esquecer-se de nós, mas não nos apaga. E enquanto nos amarmos e tu andares de passos mudos pelo soalho cá de casa ninguém se esquecerá que estamos aqui. Ninguém é especial sozinho, por isso eu tenho-te a ti e tu tens-me a mim – e nós temos o mundo.

Amor
Tempo
Um momento
Limitado
Infinito
No nosso coração
Amor

PedRodrigues 

Sem comentários:

Enviar um comentário