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sábado, 13 de julho de 2013

Finais felizes (3)

Dei por mim levado pela maré dos amores de Verão. Apaixonei-me dezenas de vezes. Descobri que, afinal, se nos permitirmos, podemos ser felizes. Descobri que a adrenalina da busca se torna num afrodisíaco poderoso. Apaixonei-me por todo o tipo de mulheres. Partilhei várias conversas de cabeceira. Expus os meus medos e ouvi os medos delas. Algumas vezes partilhávamos os mesmos medos. Alertavam-me que já não acreditavam no amor. Que tinham desistido de procurar o homem certo
-São todos uns cabrões. Desculpa, mas são. – eu ouvia atentamente e por vezes calava-me a olhar para lado nenhum. Outras vezes respondia
-Nós somos uma espécie de máquina de gerar insatisfação. Estamos errados, mesmo quando estamos certos. A meu ver, nem tu podes dizer que todos os homens são cabrões, nem eu posso dizer que todas as mulheres são um veneno. Há biliões de pessoas em todo o mundo, como é que podemos dizer que aquilo que conhecemos é uma regra? Não podemos. Eu acredito que a pessoa certa para mim está por aí e quando a encontrar o resto será só isso mesmo: o resto. Nós fomos formatados para encaixar em alguém. Tudo na vida se resume a um par. Pode parecer uma filosofia barata, mas é nisto que acredito. – algumas olhavam-me com desconfiança, como se soubesse realmente de algo que elas não sabiam. Não sabia, apenas acreditava e acredito no amor. Sempre tive quem olhasse de lado para mim por acreditar no romantismo como uma forma de vida, mas isso nunca me interessou. Era a minha forma de encarar a vida, a minha forma de estar cá e sentir que vale a pena estar cá.
Procurar. A nossa vida é uma procura constante: pelo amor, pela felicidade, pelo sentimento de plenitude, por algo, por alguém. Somos aquilo que procuramos. Somos o produto daquilo que procuramos. Somos poesia em forma de ossos e de carne e de confusão. Às vezes dou por mim à deriva – aliás, como agora. Dou por mim mais confusão que carne e que ossos. Porque é essa confusão que nos faz avançar. É essa confusão que nos faz procurar. E eu tenho procurado.
-Ela pode estar em qualquer lado. Quem me garante que já não esbarrámos um no outro? – dizia eu numa dessas noites de conversa com os amigos.
-Ninguém te pode garantir isso.
É esta a verdadeira piada da busca, da procura, da jornada: a incerteza. O não saber se chegámos à Índia, ou ao Brasil. Se há terra à vista, ou se estamos encalhados no meio do nada. É o não saber. É o sentir um par de olhos na nossa direcção. Sentir esses olhos nos nossos olhos: a lerem-nos a alma. Porque é esta a coisa engraçada dos olhos: lêem a alma. Entender nos lábios
-É giro. Vai falar com ele.
Sentirmos que somos o “ele” que os lábios gesticulam. Sentirmos e sermos. Olharmos para ela e pensarmos baixinho como que às escondidas de nós mesmos: “Vem falar comigo. Por favor, vem falar comigo.” Esperarmos no nosso canto, isolados dos nossos amigos. Ficar? Avançar? Que fazer? Deixarmo-nos envolver pelo momento e pelo tom moreno hipnotizante da pele. E cegos de razões, talvez fulminados pelo brilho avelã do olhar, seguirmos em frente – sem medo.
-Quem me garante que não és tu?
-Devo ser eu.
-Espero que sejas tu.
-É agora que me dizes que és o homem da minha vida?
-Não, é agora que te digo que és a mulher da minha.


 (...)

PedRodrigues

1 comentário:

  1. Na diversidade dos seres há sempre procura. Uns de uma forma, outros de outra, todos procuramos. E o equilíbrio vem quando a procura interseta uma outra curva de procura. É aí que nos tornamos Vascos da Gama ou Pedros Álvares Cabral com todo um mundo a descobrir e contemplar.

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