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quarta-feira, 14 de junho de 2017

Solteirismo

É Junho, estou sozinho em casa a pensar em velhas conversas. Tenho os acordes e a voz melancólica de Cigarettes After Sex a tocarem no computador, enquanto escrevo as palavras à pressa, com medo que me escapem. Quase tudo me relembra outros Junhos, com músicas mais alegres, com mais sol na pele e menos atrás das vidraças. Efectivamente, a vida muda. Nós mudamos com ela e não há como lhe escapar. Mas há coisas que se arrastam, como as pequenas ondas na maré vazia. Cada coração tem o seu ritmo, ao que parece. E o meu tem vindo a debater-se com o passado, sem vontade de dar ao futuro uma face, com nome e apelido. Não sei se por teimosia. Não sei se por medo. Não sei. Sei porém que, de todos os lados me chegam as pressões de avançar, de encontrar a pessoa ideal. Mas eu respondo que não acredito em pessoas ideais; em obrigações sociais de amar alguém para não estar sozinho; em ideias pré-concebidas quando se trata de assuntos do coração. Não sou alheio de imaginar quem corresponda aos limites que invento, mas a vida tem-me ensinado que não vale a pena me prender às amarras impostas. A qualquer momento chega alguém, completamente diferente de tudo aquilo que imaginei e rouba-me o ar, atira-me ao tapete. É como a ideia de gostarmos muito de uma melodia, mas não sabermos a letra: acabamos por cantar palavras que não existem e, no entanto, tudo parece fazer sentido, no fim da canção. Por isso não me condeno por não andar desesperado em busca de um futuro com nome de gente. Eventualmente, acabamos por chegar aos braços certos. 


PedRodrigues

2 comentários:

  1. Oh, sim...as tais linhas paralelas que encontram-se?...

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  2. (...)as tais linhas paralelas...que encontram-se no infinito?...
    Pois...desistir não é uma opção.

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