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terça-feira, 3 de julho de 2018

"Take the thing you love and make it your life"

A frase é de uma das minhas séries favoritas: Californication. É dita pelo amor da vida do protagonista, Hank Moody, um escritor que em muito se assemelha a uma personagem dos livros de Bukowski. 
Recordo várias vezes esta frase, quando penso na definição de romântico. Para muitos, um romântico é uma personagem mística, uma espécie de unicórnio que vê o amor em todas as coisas. Há muita gente que diz que sou uma pessoa romântica. Dizem-no tendo por base o que escrevo e criam uma imagem de um ser acima de todas as tentações, acima de tudo o que não tem as sete cores do amor. Por vezes, também me imagino assim. Costumo tentar poetizar as coisas: tornar o que vejo em poesia. Nem sempre é possível. Às vezes, ao saírem, as palavras oxidam. Tornam-se feias. 
Quando estou apaixonado gosto de escrever sobre e para a pessoa por quem me apaixonei. Nesse momento, não há este, nem oeste. Somos nós no centro e tudo o resto se torna ruído. Mas nem sempre vivemos sobre um céu azul. Há nuvens de tempestade. Há o depois. E nesse entretanto, nesse espaço vazio, há tentações em forma de gente, de palavras carinhosas, de vontades. Dou por mim, por vezes, a pensar: serei menos romântico por ceder à tentação da carne? Não creio. Estou sozinho (solteiro) há dois anos e as tentações multiplicam-se. Há quem me aborde, puxando o lado irracional, procurando apenas a minha carne. Serei pior pessoa por ceder à tentação? Por apenas ser uma contraparte numa noite de sexo? Serei menos romântico? Penso que não, porque acabarei sempre a ver o mundo pelo mesmo filtro. E escrever o mundo e o que vejo da mesma forma. 
Bukowski era, para mim, uma pessoa romântica. Apesar de muitos o classificarem como um niilista, um misoginista, para mim era uma pessoa com uma visão romântica do mundo. Acho que todos os grandes românticos da história eram - são - pessoas danificadas por dentro. Partidas. Nem todas as pessoas têm a sorte de encontrar o grande amor da sua vida à primeira tentativa. E, mesmo nos casos em que encontram à primeira, nem sempre essas pessoas ficam juntas até ao fim das suas vidas. O que é importante reter e repetir é a ideia que, no momento em que essas pessoas se encontram, no momento em que estão juntas e vivem esse amor, sejam apenas uma e a outra contra o mundo. É isso, para mim, a definição de romântico: alguém que no momento do amor, no meio de um céu cheio de estrelas, olha apenas para a lua. 

(Isto parece um daqueles textos dos gurus da auto-ajuda, mas era algo que me estava a atormentar.)



Pedro Rodrigues

2 comentários:

  1. Pedro acho que tu és um romântico por natureza. Concordo com tudo que disseste, todos os poetas já sofreram em algum momento das suas vidas daí terem tanto para dizer ao mundo.
    Uma das minhas frases preferidas dessa série. Aos anos que te acompanho e aos anos que tenho quase um amor platónico pela tua escrita.
    Dou-te os parabéns por escreveres tão bem português, era tão feliz se toda a gente escrevesse desta forma.
    As ditas "caras metades" podem nem sempre ficar juntas, podem não estar na mesma frequência no mesmo momento, mas elas sabem que nunca encontrarão ninguém igual. Sabem que contra tudo (o destino se calhar) e contra todos permanecerão juntas, nem que seja nas suas memórias.
    Bem haja a ti Pedro, que já me proporcionaste tantos sorrisos e tantas lágrimas no mesmo instante.

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  2. O comentário anterior foi meu, o telemóvel adora mostrar se como anónimo 🙄
    Não aceites este comentário 😂😂
    Beijinho Pedro, já comprei os teus livros todos e estou ansiosa para comprar os próximos.

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