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domingo, 13 de janeiro de 2019

Sem título

os corpos de costas voltadas
como ilhas distantes na cama
e os destroços pelo meio
intempéries e monstros
que se revoltam contra 
a monotonia
bem-vindos ao novo século
aos amores construídos 
sobre gente movediça
aos velhos amantes
azedos como o vinho
das piores castas
cujo travo se perpetua
na garganta
bebe mais um gole
prova mais uma vez
para teres a certeza
que não é mais que a faca 
encostada ao teu umbigo
fria, metálica, maquinal
a querer ferir a carne
tenra, quente, humana
quem somos nós
se não esses destroços
esquecidos no espaço
entre os nossos corpos?
se fechar os olhos
ainda aqui estás
feita dos mesmos átomos
moléculas, tecidos
essa linha fina
a lâmina de luz que é
o teu rosto
a música no ar
e tu a falares-me 
de amores que te marcaram
sim, a faca
sim, a carne
não, não tenho como
competir com feridas
antigas
só sei do agora
das tuas mãos a pedirem
as minhas
que te aqueçam
porque o passado
era frio
só sei do agora
que o amor realmente
como dizes se constrói
todos os dias
(é um pouco cliché
mas não é menos verdade)
bem-vinda ao novo século
dos amores construídos
sobre terra firme
ergueremos, se quiseres, um castelo
longe de tudo, longe de todos
nesse lugar distante
onde os amantes 
se encontram
depois de naufragar



Pedro Rodrigues

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