Páginas

sábado, 12 de março de 2011

Para a minha Mãe

Desde que me cresceram os pêlos da barba que te tenho dito com menos frequência: "Amo-te". Lembro-me de quando era miúdo e te dizia várias vezes que és a melhor mãe do mundo. Continuas a ser. Nunca deixarás de o ser. Deste-me a este mundo, como pessoa altruísta que és, quando estava tão protegido no teu ventre. Obrigado mãe. Desculpa não te dizer isto todos os dias. És linda mãe. Mesmo com o passar dos anos, com todas as rugas – algumas, muitas são cortesia deste teu filho – apesar dos cabelos brancos e de todos os sinais do tempo: continuas linda. Esse brilho no olhar não esmorece; esse teu sorriso continua cativante; a tua pele continua tão macia…Como consegues? A tua pele é feita de seda? Às vezes penso que sim. Ás vezes penso que não fazes parte deste mundo. Que és especial. A verdade é que és especial. A verdade é que me passas a mão no cabelo

“Gostava tanto quando usavas fita”

E eu derreto com esse toque.

“Tens uma cara tão bonita. Devias cortar este cabelo”

Mesmo quando eu me acho a pessoa mais feia do mundo. Quando me acho o elo mais fraco. A tua mão no meu cabelo. Ou

“Gosto tanto de estar aqui ao pé de ti meu filho”

As tuas palavras de conforto. A forma como te enroscas nas mantas, deitada no sofá a roubar-me o espaço - que tenho todo o prazer de partilhar contigo. Adoro. Mesmo quando te digo para mudares de sítio que me quero esticar. Ou que gozo contigo por saber que vais adormecer e ressonar. Sim mãe, tu ressonas. Mas eu adoro. Para mim o teu ressonar no sofá já se confunde com uma sinfonia. Já entra bem no ouvido. Fascina-me ver a tua cara, de olhos fechados, serena, a descansar. Até nisso és especial. Adoro tapar-te melhor com as mantas para não teres frio. Tu ali deitada, tão serena. Tão bela. Obrigado por partilhares o sofá comigo.

“Lembras-te de quando eras pequenino?”

Adoro o orgulho nos teus olhos e na tua voz cada vez que contas as histórias de quando eu era o menino do bibe amarelo, do vermelho ou do azul. O mesmo orgulho com que falas de mim agora. Mesmo sabendo que eu às vezes falho. Mesmo sabendo que eu te desiludo – desculpa mãe, não é por mal. Custa crescer quando nunca errámos. Cada pedra no caminho parece uma montanha. Desculpa – o orgulho na voz não se perde no ar. Para ti hei-de ser sempre este menino, vestido de marinheiro, da foto que está na mesinha de cabeceira: pequenino e cheio de caracóis no cabelo. Para mim hás-de ser sempre a mulher que me cantava as músicas do Carlos Paião para eu adormecer. A mesma mulher que me deu a este mundo. A mesma que me abriu o lábio por mentir. A mesma que me faz ganhar o dia, todos os dias, quando me diz

“Olá meu filho”

Obrigado por estes vinte e quatro anos. Obrigado por partilhares tudo comigo: sangue, suor e lágrimas. És a melhor mãe do mundo e é difícil encaixar-te num texto. Não há livros que cheguem para ti. Obrigado por seres o meu mundo. Amo-te mãe.



PedRodrigues

3 comentários:

  1. Confesso que estou um pouquinho viciada no que escreves... Ontem parei por aqui só para dar uma olhadela, que seria bastante breve, mas dei por mim a ler texto por texto sem conseguir parar...

    Apesar de não te conhecer pessoalmente, verdadeiramente, sempre te 'vi' como outra pessoa... Demonstras muito de ti aqui que nunca pensei nem imaginei.
    A tua coragem, não sei se será a palavra certa, para falares de ti, do que sentes e pensas realmente me fascina, tenho vontade de ser assim muitas vezes, pois poucas são as pessoas que conhecem o outro lado do meu 'eu'...

    Gosto muito do que leio de ti e do que realmente és, continua com estes desabafos e devaneios, passarei sempre que puder mesmo que não expresse a minha opinião todas as vezes.

    Beijinho, Raquel*

    ResponderEliminar
  2. Adorei meu....n te conheco pessoalmente...li e adorei fez me lembrar mt a minha mae....estando longe dela....pareceu que ao ler entrei num mundo pequeno onde esquecia tudo deste mundo imenso...abraço continua....

    Neuton

    ResponderEliminar
  3. Acho que todos se identificamos com este texto, tendo uma infância mais ou menos normal, todos achamos que a nossa é a melhor e é, mas nem todos têm a habilidade e o dom da palavra escrita que tu tens, daí eu gostar do que leio aqui, (eu que nem gosto de ler).
    Continua,
    Grande Abraço

    ResponderEliminar