Amo-te.
Não
te amo de uma forma qualquer, ao tropeção, sem medida, ou ao acaso. Não te amo
cada dia mais porque as coisas não funcionam assim. O amor não evolui de amor.
Será sempre amor, ou então outra coisa qualquer. Vou-te amando como se ama na
vida real: com todos os teus defeitos e os meus à mistura, com todas as
conversas em cadeia: as nossas, as dos nossos amigos, as dos amigos dos nossos
amigos, as dos amigos dos amigos dos nossos amigos e assim sucessivamente, até
ao extremo em que eventualmente nos deixaremos de amar. Vou-te amando em cada
palavra dessa cadeia e em cada palavra que te escrevo. Se disser o contrário
estarei a mentir, visto que quer queira quer não, sempre que escrevo penso em
ti, e cada vez que penso em ti não me consigo excluir. Sinto-me misturado em ti
e sinto-te misturada em mim. Não te sei explicar como, nem porquê, mas
sinto-nos presos numa camisa-de-forças. E é esta a forma ideal de explicar como
nos amamos: amamo-nos numa camisa-de-forças: quanto mais esperneamos, mais nos
enrolamos um no outro. Amo-te em todos os detalhes que te fazem mulher: o jeito
rebelde do teu cabelo, o comprimento do teu sorriso, todos os teus sinais e
marcas, o teu aroma a kiwi e coco. Amo quando me tratas bem e não deixo de te
amar quando me tratas mal. Amo-te da forma mais difícil de amar: com o coração
e as tripas de fora. Não te amo de uma forma infantil, juvenil, ou pré-adulta.
Não sou dado a romances de telenovela das seis da tarde, nem aos grandes amores
do cinema. O amor não é feito de infinitas utopias. É visceral e acutilante. Se
for suficientemente forte, reformulo: se for verdadeiramente real, dará dores
de barriga, náuseas, apertos no peito e tremores nas mãos. O amor, o verdadeiro
amor, é uma faca de dois gumes. É uma pistola carregada com todas as dores do
mundo. Mas só o amor, aquele que é digno das nossas cólicas, vale a pena. Se
for para amar, que se ame com um peito de ferro: sem medo. Eu amo-te assim.
Sabendo dessa forma que tu também me amas a mim.
Como
te disse, hoje não te amo mais que ontem, ou que vou amar amanhã. Não sei
quanto tempo ficaremos juntos, mas espero envelhecer ao teu lado. Não te vou
jurar amor eterno. Sabes bem que não acredito na eternidade. Juro-te apenas
amor. Juro amar-te na mesma quantidade todos os dias. Juro ser a metade que
completa o teu sorriso em quarto crescente na minha almofada. Juro-te beijos,
carícias, textos… Juro amar-te como se ama na vida real: com tudo o que somos à
mistura, presos numa camisa-de-forças.
Amor
Hoje,
Até
um dia
Amor
PedRodrigues
Lindo! Ao ponto de ter uma lágrima ao canto do olho!
ResponderEliminarAdoro.
ResponderEliminarpor vezes leio mas não comento. escrever é como o amor, um acto de egoísmo. escrever porque nos dá prazer e amar porque dá nos prazer ver que é possível fazer outra pessoa feliz pelo simples facto de existir. outra pedrinha interessante é o facto de escrever sobre o amor e não "para" o amor ou "em".. é como que uma história que alguém que conta está fora a observar o seu amor baloiçando... no fundo vim para dizer que gostei.
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