Estamos
mergulhados no caos. Caminhamos sem rumo definido e, no meio desse processo,
acabamos por nos atropelar barbaramente uns aos outros. Vivemos num país de
falsas aparências e de moralidades duvidosas. Não somos pioneiros em nada, mas
inchamos de orgulho com a nossa ignorância. Somos constantemente bombardeados
pela cultura de croché que os meios de comunicação nos apresentam, dia após
dia. Acabamos por viver numa bolha de sabão, ansiosos com algo que não sabemos
bem o quê. Rimo-nos da estupidez alheia, choramos com os dramas dos artistas
das novelas, sofremos com os problemas dos senhores que são capas de revistas,
sonhamos ser como o miúdo lá da terra que foi cantar à televisão e que agora é
famoso por quinze minutos. Esquecemo-nos da realidade que nos rodeia e não
temos sequer vontade de definir um rumo para a nossa vida. Afundámo-nos ao
longo dos anos em dívidas e promessas de um futuro melhor. Hoje em dia somos
obrigados a apertar o cinto - mas custa-nos apertar o cinto. Engordámos ao longo
dos anos. Viajámos pelo mundo, com medo que o mundo nos fugisse entre os dedos.
Tirámos fotos que ainda hoje mostramos aos nossos amigos quando,
esporadicamente, nos juntamos para um jantar de convívio. Ainda nos rimos –
timidamente. Falamos com nostalgia dos tempos em que nos juntávamos todas as
semanas. Recordamos os carros que fomos obrigados a vender porque os miúdos
entraram para a faculdade e as propinas são estupidamente elevadas. Falamos do
trabalho com tremores nos lábios porque as coisas não andam bem na empresa e o
patrão já despediu mais uns poucos. Olhamos para o futuro com um pavor imenso.
Na televisão somos contemplados por políticos de olhos vazios. Os lábios deles
também tremem quando falam, e as palavras saem ocas, sem significado.
Sentimo-nos governados pela descrença, pela ignorância e pela falsidade – mesmo
que assim não o seja. Levamos constantemente com lições de economia como se
fizéssemos parte de uma seita de catedráticos. Nada entendemos, a não ser os
olhos vazios e os sistemáticos pedidos de paciência e compreensão. Quem nos
pede, pede cegamente, esquecendo-se que a paciência, tal como a ignorância, tem
limites. Estamos a chegar ao ponto de ebulição. As greves começam a tornar-se
sinónimo de motim. A anarquia teima em mostrar a sua face. Repito: estamos
mergulhados no caos. As forças policiais descarregam a sua fúria e indignação
na marcha dos restantes indignados. Estamos a ser recrutados para uma guerra
onde o inimigo não tem rosto – nem sexo, nem idade. Os confrontos ameaçam
tornar-se cada vez mais sangrentos. Acabaremos por nos atropelar uns aos
outros, num país onde não há rei nem roque. Infelizmente é esta a nossa
realidade. Somos feitos das mais finas páginas de história, mas o nosso
presente é um cabo das tormentas sem uma boa esperança à vista. Tenho pena que
caminhemos cegos, sem um rumo definido. Tenho pena que não sintamos orgulho da
nossa cultura: que os museus continuem vazios; que os livros não tenham quem os
leia; que os sofás continuem cheios e as salas de teatro vazias. Somos o
produto das novelas e dos reality shows. Uma cambada de seres aculturados.
Ainda temos a lata de perguntar como chegámos a este estado?
PedRodrigues
Compatível com a sociedade, Incompatível com ele!
ResponderEliminarA rua pára com luzes de harmonia e escandalosos risos incertos de seres que sem saberem porque vão sobrevivendo ao tempo irreal de cor.
Os risos alimentam-se do real incerto de viver, de querer manter a postura perante outros pedantes.
Insistindo na irrealidade sorriem, falhando neles próprios, porque ao certo eles vão escorrendo sal, mesmo sem se aperceberem metem.
Nunca mentindo a diversificados seres, caiem no escândalo de não sorrirem para a harmonia interior, mas sim sorrirem para os irreais movimentos perfeitos.
Não é só Portugal que vive da aparência de pessoas irreais!O mundo está preso á futilidade social...
Compatível com a sociedade, Incompatível com ele!
ResponderEliminarA rua pára com luzes de harmonia e escandalosos risos incertos de seres que sem saberem porque vão sobrevivendo ao tempo irreal de cor.
Os risos alimentam-se do real incerto de viver, de querer manter a postura perante outros pedantes.
Insistindo na irrealidade sorriem, falhando neles próprios, porque ao certo eles vão escorrendo sal, mesmo sem se aperceberem metem.
Nunca mentindo a diversificados seres, caiem no escândalo de não sorrirem para a harmonia interior, mas sim sorrirem para os irreais movimentos perfeitos.
Não é só Portugal que vive da aparência de pessoas irreais!O mundo está preso á futilidade social...
De cada vez que leio um texto teu, dou por mim evolta numa nostalgia arrebatadora, e pergunto-me até quando continuarás a me supreender?
ResponderEliminarObrigada por mostrares que ainda existe alguém por quem vale a pena lutar.