Vamos
crescendo em silêncio, na esperança vã que o tempo não nos ouça. Vamos dando
tempo aos nossos passos para que sejam cada vez maiores. À medida que vão
crescendo, nós vamos crescendo com eles: sempre a olhar para trás, a contar as
migalhas. De repente chegamos aonde nos esperam. Somos feitos do tempo que
demoramos a lá chegar. Somos feitos das montanhas que subimos, dos mares que
atravessamos, da areia que pisamos, do ar que respiramos. Somos feitos do mundo
- e o mundo é feito de nós. Somos feitos das mãos dos que partilham esta
jornada connosco. Crescemos com a relva, em silêncio. Crescemos com as árvores,
em silêncio. Crescemos de mãos dadas, em silêncio. Não queremos que o tempo nos
ouça, mas vivemos num desespero constante para que não nos esqueça. E então
procuramos nos nossos dedos outros dedos. Vamos apalpando até não nos sentirmos
sozinhos. Nesse momento somos felizes. Nesse momento somos feitos das memórias:
das nossas e das dos outros. Sentimo-nos especiais. Sentimo-nos parte do tempo
que passa por nós. Existimos nas vidas uns dos outros, numa corrente de amor
que por vezes não entendemos. Precisamos uns dos outros para que essa corrente
não deixe de existir. Existimos enquanto plural. Partilhamos as mesmas águas
onde todos nos banhamos: num rio de ternura abstracta, quase escondida, que não
damos conta. Seremos sempre um produto inacabado aos nossos olhos: morreremos
sem ter feito tudo aquilo que nos propusemos a fazer. Mas, pelo menos, seremos
lembrados pelo pouco fizemos e nunca pelo muito que deixámos por fazer.
Crescemos com medo que o tempo se lembre de nós. Crescemos mudos. No entanto,
não queremos ser esquecidos. Vivemos numa procura constante para o amor que
trazemos guardado. Se realmente formos dignos, daremos esse amor sem pedir nada
em troca. Então as nossas mãos não se fecharão sozinhas. Seremos sempre
lembrados por quem nos ama. Faremos parte do tempo deles, e seremos esse mesmo
tempo. Hoje dou por mim numa luta incansável contra o esquecimento. Um dia não
estarei cá para lutar. Nesse dia, sei que serei mais que uma simples fotografia
na estante da sala. Sei que quem me ama, não me esquece – não me esquecerá. De
modo que vou crescendo em silêncio, com medo que o tempo me ouça, e sem que ele
veja vou dando as mãos por aí, na esperança vã(?) que um dia o mundo inteiro se
lembre que existo.
Parabéns
a mim.
PedRodrigues
Parabéns Pedro.
ResponderEliminarMuitas felicidades e que contes muitos.
Um abraço.
Mais um texto lindo para mais um aniversário. Que contes muitos mais de ambos ! Parabéns :)
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