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terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Pequeno conto das duas e cinco da manhã

Desligou o telemóvel. Ainda agora acabara de lhe dizer que a amava e sentia-se na urgência de lho repetir. Resolveu-se por um suspiro. Amanhã, pensou. Amanhã é um novo dia, cheio de novas oportunidades. Amanhã volto a dizer que te amo, pensou. Fechou a luz. Voltou-se para o lado, fechou os olhos, imaginou-a ao lado dele e deixou-se vencer pelo sono.

As luzes dos candeeiros iluminam a rua,
A cidade parece deserta,
As pedras da calçada são minhas e tuas,
Eu amo-te
Sentamo-nos a fitar o céu vestido de negro
O brilho das estrelas confunde-se nos teus olhos
Foges de mim e pedes-me que te alcance
Eu ainda te amo
Busco a tua mão que teima em fintar-me
Enlaço os meus dedos nos teus dedos
Conto constelações nos teus lábios e beijo-te
Eu hei-de sempre amar-te

Acordou. Ao lado dele continuava o vazio deixado por ela. Pegou no telemóvel, viu as horas e deixou-se ficar a olhar o tecto. Quando saísse da cama começaria um novo dia cheio de novas possibilidades. Hoje voltaria a dizer que a amava. Hoje voltaria a ouvir a voz dela. Um novo recomeço para ambos. Bocejou, espreguiçou-se e finalmente decidiu levantar-se. Os pés  tocaram o chão frio. Hesitou um pouco, ganhou coragem: comecemos, pensou. Abriu a janela. As luzes dos candeeiros já não iluminavam a rua. A cidade vestia-se de gentes apressadas. As pedras da calçada eram de todos. Ele ainda a amava.

PedRodrigues



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