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segunda-feira, 7 de novembro de 2016

O tempo não cura nada

Há um mês que não vou a casa. Desde o dia em que resolveste partir. Um mês: o tempo foge-nos. Quando cheguei, ainda estavas, por muito pouco: um resto do homem que um dia foste, deitado numa cama de hospital, com tubos por todo o lado. Durante uma hora dei-te a mão. Agarrei-te com força com vontade de te puxar para a vida, de te puxar para mim. Acabaste por ficar, em silêncio, entre os barulhos monofónicos das máquinas, e os lamentos das pessoas à tua volta. Ali estivemos os dois: eu, em lágrimas, tu a lutares por mais uns minutos de vida. O teu corpo fervia, talvez da febre, porque segundo os médicos os teus órgãos começariam a desligar aos poucos, cansados da luta, e tu acabarias por te deixar ir. Foi há um mês. Um espaço de tempo onde cabe apenas a saudade. Um mês sem falares comigo; sem me dizeres "meu pombo", na tua voz velha e grave; um mês sem abraços, sem apertos de mão, sem lutas. Há quem diga que o tempo cura tudo, mas eu não acredito nisso. O tempo só nos separa uns dos outros, não traz ninguém de volta, não cose feridas abertas. É só tempo - a devorar tudo e todos e a processar-nos como memórias. Foi há um mês que partiste, e as lágrimas continuam a cair, teimosas, sem que o tempo tenha tempo para as secar.
 
PedRodrigues

1 comentário:

  1. é horivel qdo se perde alguém... entao qdo é alguem querido é como arrancar um pedaço nosso..

    E sim tens razao o tempo nao cura... o tempo simplesmente torna mais "aceitavel" a perda de alguém... pois com o tempo aprendemos a viver com a falta de quem mais nos faz falta!

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