Ali estava eu: mais um copo para o caminho. Nunca fui fã de seguir a estrada que os outros pisam. Sempre me senti diferente; nunca fui diferente; nunca quis ser diferente.
Ali estavas tu: bela como sempre. Não sei o que fazes ao cabelo, nem como o tratas. Só sei que parece veludo, e a forma como se agita é única e singular. Passei horas – não sei precisar no relógio onde paravam os ponteiros – a admirar-te. O copo multiplicou-se. O meu desejo por ti também. Perdi-me nas curvas que tão generosamente me apresentavas. Perdi-me nos olhares que lançavas às feras – agarrava-me com unhas e dentes aos que vinham na minha direcção.
Ali estava eu: a afogar as mágoas num mar de whisky. E tu de saia, as meias de vidro a reflectirem o meu sorriso tímido. Um rio de desejo atrás de cada dente. Uma ânsia de te provar. Tantas vezes te vi naquele mesmo bar. Nunca tive coragem de me aproximar. Sempre me deixaste mudo. O amor que sentia pelo que via de ti, o desejo que fazias crescer nas minhas calças, tudo isso era nada, comparado com o medo que tinha. Ainda hoje me pergunto:
-Medo de quê?
A resposta continua a mesma
-Ela era melhor que eu
No entanto na minha cabeça o melhor sou eu até ao momento da verdade. No momento da verdade tremo de medo.
-Será que sou o suficiente?
A resposta sempre foi a mesma. As inseguranças continuam a multiplicar-se tal como os copos no bar. O suficiente, o melhor, o difícil de alcançar. Nunca o pior, o horrível, o nunca mais. Mas as inseguranças…
-Será que sou o suficiente?
A resposta continua a mesma. O medo também. A minha cabeça continua perdida na mesa do bar: mais um copo para o caminho. Um pedaço de mau caminho que dança de saia no meio da pista. Que me deixa num limbo entre a besta e o homem. Que me faz sonhar com o corpo dela despido. Com os gemidos de prazer. Com uma perna para aqui e outra para ali. Com
-Mas será que sou o suficiente?
E a resposta não muda porque eu sou o melhor. E sendo o melhor um dia levantei-me do marasmo em que me encontrava. Nadei pelo mar em que me afogava. E disse-te
-Vem comigo
Tu vieste e eu fui o melhor. Tu eras melhor que eu, mas ali eu fui o melhor. Uma perna para um lado, outra perna para o outro e tu gemias com o toque da minha língua. Os meus dedos a passearem pelo teu corpo levantando cada pêlo. Os teus dedos a contraírem-se com o aproximar do momento. Um oceano de prazer que transbordava de ti - acendendo cada vez mais o fogo. Entrei no teu paraíso e só parei quando chegámos ambos ao céu. Ali fui o melhor. E na ressaca do momento acabei por entender que apesar de ser o melhor, o medo de falhar é enorme. Um dia alguém não vai gemer de prazer. É desse dia que tenho medo. Aqui estou eu: sentado no mesmo bar, uma bebida para o caminho.
PedRodrigues
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