Acredito que o mal esteja nas pessoas. Não acredito na maldade gratuita que as religiões nos tentam vender em forma de bilhete de salvação – ou condenação - num futuro pós-morte que não sei se existe.
Nunca fui de acreditar que coisas boas atraem coisas boas, e que fatalmente as coisas más atraem coisas más. Embora corra o risco de dar o dito por não dito: sou uma pessoa supersticiosa. Acredito em Deus e passei por todos os testes que a igreja – (e) a minha mãe – me propôs: desde o baptismo, até ao crisma. Apesar de já não ir regularmente à igreja, falo com Ele várias vezes. Muitas dessas vezes a minha vida está de pernas para o ar. Não sei se Ele existe, mas assumi há muito tempo – ou assumiram por mim, e fizeram-me acreditar – que sim. Ele existe e anda por aí, não sei onde, não quero saber onde, não sei se está nas árvores ou noutro sítio qualquer, mas acredito que Ele anda por aí.
Apesar das desgraças que vejo todos os dias, não deixo de acreditar que há uma entidade divina que vai para lá da nossa compreensão. Não sei se é só um, se são vários, não sei. Sou uma pessoa confusa, com uma mente que trabalha a uma velocidade acima da esperada, deixando-me sempre à deriva num mar de dúvidas. De qualquer das formas, a razão pela qual acredito numa entidade divina superior ao comum dos mortais é muito simples. Desde muito pequeno me agarrei à crença de que a perfeição existe. Não acredito contudo que a perfeição seja humana. Somos seres fantásticos: funcionamos como máquinas, num ritmo perfeito, numa harmonia perfeita entre vários elementos. Porém, somos seres imperfeitos: falíveis em actos, pensamentos, ou até mesmo na nossa vertente funcional. Falhamos sempre na pior altura. No momento exacto em que não devíamos falhar. Alguns perecem mesmo no momento de tal falha. Somos seres fantásticos, mas não somos perfeitos.
Para mim: Deus é a perfeição. Chamo-lhe Deus, mas podia chamar outro nome qualquer. Porém, foi este o nome que me foi apresentado desde pequeno e que assumi como sendo o correcto, apesar de o nome nada alterar na crença numa entidade perfeita.
Tal como disse: somos seres imperfeitos. Não acredito que, se realmente há um Deus, ele deva ser culpado por todos os males do mundo. A maldade está em cada um de nós. Por exemplo: uma faca é uma arma, para quem a quiser ver como uma arma. Cabe a cada um avaliar o objecto à sua maneira. Por outro lado, temos a questão dos desastres naturais: quem culpar? A resposta é simples: o mundo não é um sítio perfeito. A humanidade é uma pequena parte da imperfeição deste mundo, que contribui para que o planeta seja cada vez menos habitável. Em grande parte dos casos, estamos a colher as nossas tempestades. Estamos a colher o fruto da nossa ganância, da nossa inconformidade e da nossa imperfeição. É assim que vejo as coisas. Tenho pena.
De um ponto de vista mais pessoal – cada vez mais – sou uma pessoa crente e supersticiosa. Não sei se posso falar em antagonismo, quando uso estas duas palavras. Mas não sou perfeito. Posso dizer que não gosto de ver chinelos virados do avesso; azeite entornado no chão causa-me arrepios na espinha; e acredito que estou a pagar os meus sete anos de azar por ter partido um espelho. Tais crenças devem-se a uma resposta natural de acontecimentos que acabou por condicionar a minha visão das coisas. Sempre que uma destas situações me é apresentada, como por exemplo o azeite entornado no chão, algo de desfavorável acaba por acontecer. O mundo é um sítio imperfeito, de facto. Daí esta minha busca constante pela perfeição, não tendo curiosidade nenhuma em ver o seu rosto.
PedRodrigues
Ok...
ResponderEliminarNunca se pode...nem deve...ter curiosidade com aquilo que não é possível atingir...
Será a forma mais previdente...de chorar...sorrir ou ficar sisudo...
Afinal viver a vida...conforme nos é proposta e apenas à nossa maneira...
Alguém "perfeito"...creio que nunca só sorriria...nem tão pouco sómente reagiria ao contrário...
Identifico-me com as palavras e as emoções deste seu belíssimo texto...
Parabéns
CNC