Enquanto me vou perdendo a divagar pelos recantos mais recônditos da minha imaginação, à procura do melhor tema para uma crónica ou um livro, lá vou procurando a inspiração no álbum de fotos femininas que me é apresentado. Quanto mais penso no assunto, menos certezas tenho. Todos os temas me parecem ocos. Gostava de começar com algo que prenda o leitor nas primeiras frases. Uma droga em forma de palavras que torne o leitor fatalmente viciado a cada parágrafo. Quero que o meu livro seja uma droga (de certa forma já me sinto banal a cada palavra).
Detesto inícios. Sinceramente, perco pequenas eternidades a olhar para a folha em branco. Nunca sei como começar. Nunca sei por onde começar. O branco hipnótico das folhas deixa-me assim: confuso e perdido. Tenho uma ideia na cabeça – mais que uma, até. Dizem por aí que o mais difícil de cada texto é o seu final. Nunca acreditem nas palavras de um escritor. Não acreditem em tudo o que escrevo. É impossível descrever a realidade de forma precisa. Todos tomamos liberdades – perdoem-me a presunção. Repito: detesto inícios. Lá vou vendo mais uma fotografia, continuo na mesma. Não continuo na mesma, o meu cérebro sim. Está a zeros. Eu lá encontrei mais um pormenor na fotografia dela. Mais uma linha que me tinha passado despercebida das primeiras vezes que a vi. A televisão também não ajuda. Nada a não ser futebol, filmes sem conteúdo, políticas vazias e economias destruídas pelos mesmos que apontam o dedo a outros tantos. Lá procuro mais uma foto. Lá procuro mais uma vítima para o meu olhar de falcão. Para a ganância do meu desejo. Será que o início se esconde nas linhas que limitam a fotografia. Aposto que ela esconde infinitas histórias em cada fio de cabelo; em cada milímetro de pele esconde uma série de epopeias. Lá vou pegando nos livros. Leio cinquenta páginas e o resultado é o mesmo. Onde está o início que tanto me foge? Onde está o tema que me vai dizendo adeus num horizonte qualquer? Onde está a inspiração e a coragem de dar o primeiro passo? Vou ficando na mesma. Vou-me frustrando a cada letra que aparece no ecrã. A página em branco está suja. Consegui tingir o branco hipnótico com a tinta da falta de inspiração. Não tenho vontade nenhuma de fazer sentido com as minhas palavras. Quero apenas escrever. Procurar um livro numa frase que me pode sair a qualquer momento. Vou-me lembrando de filmes, de livros, da vida, mas continuo impotente. Falta-me alguma chama. Falta-me genica. Falta-me o início. Neste abismo que me vai separando do meu melhor tenho vontade de me atirar de cabeça. Enquanto não o faço, lá vou publicando folhas tingidas com a minha falta de imaginação.
PedRodrigues
"...Nunca se consegue escrever porque se quer...mas sim por todas as outras razões...sejam elas do coração...da alma...ou da circunstância que as conjuga..."
ResponderEliminarCustódio Cruz
(...este amontoado de letras que escreveu...podem não parecer dizer nada...mas dizem o suficiente...para clarear a expectativa eminente de um bom texto...ou até de um bom livro...)
Não gostou da última vez do meu "excelente"?
Olhe só a minha cara de preocupado...
Pois percebo...não consegue ver...mas de certo consegue imaginar...
Tenho admiração pelo que escreve...e identifico-me muito com algumas das suas emoções...
Já sei se fosse uma gaja era bem melhor...mas ok...
Digo e que penso e se tiver complexos com as minhas opiniões...olhe...nas as publique...
heheehh...BOA sorte "rapazola"...
CNC