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segunda-feira, 17 de junho de 2013

À avó que me morreu

Morreste-me. Há sete anos: morreste-me. Ainda me lembro de tudo: do cheiro a Verão à hora de jantar, do timbre da voz que nos deu a notícia, do pôr-do-sol a esgueirar-se pelos vidros das janelas, da cara da mãe, da cara do avô. Lembro-me de tudo e nada disso me traz conforto. Morreste-me. Há sete anos que me pergunto todos os dias como seria se ainda por cá estivesses. Se continuarias a sorrir como sorris nas fotos que encontrei nas caixas lá por casa. Adoravas quando o mundo sorria – quem não adora, não é? Ainda hoje me pergunto como seria se cá estivesses para me dar força. Como seria se cá estivesses para dar força à mãe e ao avô. Sentimos todos a tua falta. Sentimos muito a tua falta. Lembro-me que há sete anos, ao saber da notícia, corri para a praia em busca do conforto de uma resposta que julgava estar enterrada na areia, ou escondida no barulho das ondas a vergarem-se sobre si. Procurava uma resposta para a perda. Tinhas-me morrido. Nunca mais te iria ver. Nunca mais iria sentir as tuas rugas a beijarem-me a cara. A tua voz não voltaria a chamar o meu nome. Quantas vezes chamaste o meu nome? Um milhão? Dois milhões? Não o chamaste vezes suficientes. Sinto tanta falta de ouvir a tua voz a chamar o meu nome. Hoje és as lágrimas que choro. És as lágrimas que choramos. Morreste-nos, mas o nosso amor por ti não morreu contigo. Jurei há sete anos que iria visitar a tua campa sempre que pudesse. Não tenho cumprido essa promessa. Desculpa-me. Há uma tristeza que se veste de mim de cada vez que entro no cemitério. Quando olho a tua fotografia imagino-te a repousar serena em algum lugar distante. Imagino que um dia voltarás e me beijarás novamente e dirás que tudo está bem. Imagino o sorriso do avô ao ver-te. Imagino isso tudo e depois percebo que não passa disso, da minha imaginação. Choro por dentro e aguento um pouco para que a mãe não me veja a chorar. Não quero que ela chore. Não quero que ela me diga que chorar faz bem e depois tente aguentar as lágrimas dela de modo a se mostrar forte. Perder quem amamos é como perder uma parte de nós. Há algo que parte e não volta. Há um luto que vive connosco e sobrevive cá dentro com as recordações que guardamos. Se fizer força ainda te consigo ouvir a chamares-me para jantar. Todos os dias falamos em ti. Todos os dias recordamos com saudade o teu lugar na mesa. O avô tem sido um guerreiro na tua ausência. Mas todos os guerreiros acabam por cair. Tenho medo de o ver cair. Não me imagino sem ele, assim como não me imaginava sem ti. Pergunto-me tantas vezes como me tenho aguentado sem ti. Morreste-me. Há sete anos morreste-me. Há sete anos proibiram-me de te ver a repousar serena de pálpebras fechadas. Pediram-me que me lembrasse de ti a sorrir. E é isso que tenho feito. Recordo-me sempre de ti em todo o teu esplendor. Recordo-me de ti com toda a saudade que é humanamente possível guardar. Amar-te-ei sempre na mesma quantidade. Passem mais sete anos, ou setenta, viverás guardada em mim. A sorrir. Sempre a sorrir. No que de mim depender, não serás esquecida. Sentimos a tua falta, avó. Onde quer que estejas, olha por nós. Olha por mim. Não te esqueças de mim. Nunca te esqueças de mim. Tenho tantas saudades tuas. Avó. És esta lágrima que desce o meu rosto. Morreste-me. Há sete anos morreste-me, mas eu não te esqueço. Avó. Amo-te. Avó.


PedRodrigues

2 comentários:

  1. Viva, sei o que estas a passar, a minha avó partiu a mês, vivo com as lagrimas nos olhos, eu a adoro e nao quero acreditar que faleceu, para mim ela continua viva, nao consigo permitir que nunca mais a vou ver, atender o seu telefone , dizer-me que me quer comprar umas calças, parte de mim partiu. Sinto-me a pessoa mais triste do mundo, esta-me a custar muito. Parece que ouço a voz dela a chamar-me para o jantar, a dizer-me para nao deitar tarde. Eu te amo demais avó Ermelinda e espero sinceramente que me dês um sinal e que nos possamos encontrar. Te amo avó. Ate sempre

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