Falar nela é falar em
Novembro. Em passeios junto ao rio, a adivinhar os peixes a nadarem contra a corrente.
É falar na forma como rodava no meio da calçada à procura do norte. Muito disso
me fascinava. Sei lá. Fascinava-me a energia que guardava por dentro, a luz interior.
Entre outras coisas, como por exemplo a curiosidade inocente com que olhava as
flores. Como se procurasse de onde vinha a sua beleza. Apetecia-me dizer-lhe
que a beleza não é apenas uma característica exterior e que, por vezes, as
coisas mais bonitas, as pessoas mais bonitas - ela - são-no por dentro. Mas calava-me,
com medo de estragar o momento. Deixava-me ficar a contemplar os cabelos de
vento, a levantarem levemente acima dos ombros. Enquanto, ao longe, o sol se
apagava no horizonte e as luzes dos candeeiros se acendiam. À nossa volta a
cidade continuava a acontecer freneticamente. Nada disso me importava. Estávamos
juntos, à distância de um toque. A minha mão começava a procurar a dela e,
devagar, ao contrário de tudo o resto, os nossos dedos acorrentavam-se. Sem
querer, espalhávamos olhares na nossa direcção. A cidade tinha mil olhos. E, no
entanto, eu só queria morar nos dela.
Falar nela é falar no dia em
que parámos debaixo de um candeeiro apagado. Olhámos para cima. Depois dos
telhados havia estrelas. Regressámos a nós. As nossas mãos continuavam-nos.
Embora não conseguíssemos distinguir os traços um do outro, tínhamos a certeza
um do outro. No escuro não há rostos. Então disse-me ter compreendido de onde
vinha a beleza das flores e beijou-me. O final de Novembro terá para sempre esse
cheiro a beijos às escuras e castanhas assadas. Basta-me fechar os olhos.
PedRodrigues
Sempre me considerei uma romântica. À espera de um príncipe encantado que me levasse para um reino longínquo. Com o tempo essa ideologia foi esmorecendo, não por falta de príncipes, que esses, confesso que encontrei alguns, mas por não encontrar o meu. Por começar a pensar que essa ligação, esse amor a esse nível não existisse, coisas de contos de fadas. E depois leio textos destes, da doçura com que a descreves, a estima e a delicadeza que transmites, afinal não é de um príncipe que estou à procura é só de um Pedro.
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