Não sou destas coisas. Gosto
pouco de tratar como diamante os pedaços de vidro que me tentam cortar. Mas
achei pertinente. Talvez por estar cansado de lidar com Sábios do Sião, que se
acham demasiado acima de todos os outros, a olharem do alto das suas torres de
marfim, enquanto bebericam o seu cálice de vinho quente. Os snobs
quase-alternativos que se acham tão distantes de tudo. Sempre sabedores da mais
profunda cultura, à qual só eles chegam. Os fãs incondicionais de tudo o que é
menos conhecido, tudo o que foge às massas. Os tais redondos em formas
quadradas, ou vice-versa. Que recitam a poesia dos autores mais indigentes,
perdida pela internet, e passam a imagem de conseguirem falar horas sobre a
literatura russa do século dezanove, ou os grandes pensadores franceses,
escondendo no seu íntimo o facto de que a última obra mais extensa que leram
foi a bula do psicotrópico tomado antes de um concerto qualquer, numa garagem
qualquer, fora do alcance dos restantes mortais. São esses os mesmos snobs que
usam as redes sociais – e talvez entre aqui a maior de todas as ironias – para criticar
tudo o que julgam chocar com a sua cultura refinada. O meu único desconsolo, no
meio de todo este aparato, é que essas mesmas criaturas místicas ainda não se
tenham apercebido de uma estranha coincidência: respirar é algo demasiadamente
mainstream. Quando é que começam um concurso de apneia?
PedRodrigues
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