Agora, no íntimo do Inverno
que sopra lá fora, vejo-me obrigado a rever os melhores momentos que ficaram
guardados nas fotografias que tirávamos. Crentes, na altura, que seriam uma
espécie de troféu da nossa felicidade. Na rua há barulhos de latas a voarem com
a força do vento. O mar deve continuar a galgar metros de areia, a julgar pela violência
do som das ondas.
O inverno assusta. Mas não é
do inverno que tenho medo. Nem do vento. Nem da chuva. Aterroriza-me ser passado.
Imaginar-me nas tuas conversas como um pretérito imperfeito: uma espécie de
coisa que já não existe
- Era.
(de certeza guardada na
algibeira)
Há pessoas que nos fazem o
luto, como se de fantasmas nos tratássemos. Por vezes, morremos e matamos por
dentro. Vivemos à margem da lei. O mesmo espaço consegue guardar calorias de
amor e tempestades de ódio. Quem nos pode recriminar? Construímos amores em pessoas movediças, é essa a verdade. Construímos. Alheios à realidade de que
somos apenas castelos de areia, à espera da subida da maré. Nada é para sempre.
É isso que me assusta. Depois do adeus ficam as mágoas e os ódios. As virtudes
desaparecem. Os defeitos vêm à tona. Tudo é remexido e atirado: como folhas ao
vento. Depois, a calmaria com que nos vamos tornando nesse passado chato. Essa
fase menos boa. Somos essa coisa morta. Essa ideia perpetuada de um erro
- Já lá vai.
(de voz pesada)
- Não volta.
(de faca na mão)
- Não quero.
(a apagar a última fotografia)
Depois do Inverno vem a Primavera. Nos campos despidos, nascerão flores de certeza.
PedRodrigues
Já no filme, depois do Verão vem o Outono ;)
ResponderEliminarE escondemo-nos nas metáforas que escrevemos, defendemo-nos com os rituais que criamos, convencemo-nos com as primaveras que virão...
ResponderEliminarO que não é explicável só pode ser demonstrado e tu desenhas ao escrever, revejo-me muito nos teus textos.