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segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Fantasmas dos Invernos passados

Agora, no íntimo do Inverno que sopra lá fora, vejo-me obrigado a rever os melhores momentos que ficaram guardados nas fotografias que tirávamos. Crentes, na altura, que seriam uma espécie de troféu da nossa felicidade. Na rua há barulhos de latas a voarem com a força do vento. O mar deve continuar a galgar metros de areia, a julgar pela violência do som das ondas.
O inverno assusta. Mas não é do inverno que tenho medo. Nem do vento. Nem da chuva. Aterroriza-me ser passado. Imaginar-me nas tuas conversas como um pretérito imperfeito: uma espécie de coisa que já não existe
- Era.
(de certeza guardada na algibeira)
Há pessoas que nos fazem o luto, como se de fantasmas nos tratássemos. Por vezes, morremos e matamos por dentro. Vivemos à margem da lei. O mesmo espaço consegue guardar calorias de amor e tempestades de ódio. Quem nos pode recriminar? Construímos amores em pessoas movediças, é essa a verdade. Construímos. Alheios à realidade de que somos apenas castelos de areia, à espera da subida da maré. Nada é para sempre. É isso que me assusta. Depois do adeus ficam as mágoas e os ódios. As virtudes desaparecem. Os defeitos vêm à tona. Tudo é remexido e atirado: como folhas ao vento. Depois, a calmaria com que nos vamos tornando nesse passado chato. Essa fase menos boa. Somos essa coisa morta. Essa ideia perpetuada de um erro
- Já lá vai.
(de voz pesada)
- Não volta.
(de faca na mão)
- Não quero.
(a apagar a última fotografia)
Depois do Inverno vem a Primavera. Nos campos despidos, nascerão flores de certeza.



PedRodrigues

2 comentários:

  1. Já no filme, depois do Verão vem o Outono ;)

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  2. E escondemo-nos nas metáforas que escrevemos, defendemo-nos com os rituais que criamos, convencemo-nos com as primaveras que virão...
    O que não é explicável só pode ser demonstrado e tu desenhas ao escrever, revejo-me muito nos teus textos.

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