Tinhas-me como um dado adquirido.
Achavas que estaria sempre no mesmo lugar, como uma fotografia gasta, perdida
pelas estantes. Achavas que as horas do meu relógio seriam para sempre tuas e
que a minha pele teria para sempre o teu nome. Não. Prezo demasiado a minha
liberdade. Ensinaste-me teoremas e novas medidas. Que o quadrado da hipotenusa
é igual à soma do quadrado dos catetos. Mas eu nunca fui mulher de triângulos: amo
em linha recta. Ao contrário de ti. Agradeço-te por me teres oferecido o
almanaque do desapego, com todas as instruções para desligar esta bomba relógio
que é a solidão de amar alguém que não nos ama de volta. Na banda sonora da
nossa despedida não há músicas repetidas. O teu cheiro não dura para sempre –
infelizmente para ti. Tinhas-me como garantida, mas a vida prega partidas.
Aprendi a vencer jogos viciados. Arranjei uma caixa de guardar passados.
Desculpa, meu amor, mas está na altura de fechar a tampa.
PedRodrigues
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