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quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Índia, até amanhã

-Tenho saudades tuas

Disse ela, em tom sincero, numa das mensagens. Lembro-me de sorrir. Lembro-me de sentir um sorriso fugir-me da face. Ela tem esse efeito em mim. Descontrola-me de uma forma que não entendo. Hoje senti a falta dela. Sinto a falta dela todos os dias. Mas hoje faltou aquela mensagem, ou aquele telefonema. A dose de loucura que me anima o dia. O sorriso descontrolado que vou deixando fugir-me da boca. Hoje entendi a falta que ela me faz, realmente. Uma palavra, uma frase, um sorriso. Sinto a falta dela. Tenho saudades dela.
Liguei o computador e procurei por um sinal. Vi uma foto dela. A nova foto de perfil. A foto não é dela. Ou por outra, é dela, mas não me lembra quem ela é. Falta-lhe a loucura no rosto. A alegria. Falta-lhe a alegria. A beleza continua lá. Um pingo de ciúme. Comentários de rapazes e o ciúme a crescer. Ela ali, linda. No entanto, não é ela na foto. Uma imagem dela, sem vida. Os comentários. Tantos comentários e ninguém entende que não é ela na foto. Uma mensagem

-Estou chateada

(O resto da mensagem guardo para mim)

Uma explicação para aquela foto. O espelho de um dia mau. Só mais um dia mau. O tempo lá fora não ajuda.
Um telefonema. Não é ela. São os meus amigos. Visto-me e vou com eles. Entre as gargalhadas lembro-me da cara dela na foto. Lembro-me

-Tenho saudades tuas

De todos os momentos que já passei com ela. Do primeiro beijo. Do primeiro beijo de verdade. Na varanda, depois de um cigarro. Eu a aborrecer-me com o fumo. A dizer

-Larga isso

E o beijo a aparecer. Eu rendido. Cada vez mais rendido. A pensar se errei. A pensar se devia ter dito “sim” quando disse “não”. Ela longe de mim e eu a implorar pelo abraço dela. A procurar o cheiro dela numa roupa qualquer. A ver a fotografia e a entrar em pânico. A pensar que alguém lhe pode estar a tocar na minha vez. A pensar que ela pode estar farta de mim. Que já não me quer. Que já não lhe chego. Que não sou o suficiente. Embora

-És pequenino, mas assentas-me na perfeição.

Eu saiba que ela também me quer. Ela que é fantástica. Ela que precisa de alguém que a compreenda. Alguém que não lhe elogie apenas as fotos. Que não a censure nos actos. Alguém que a entenda

-Assustas-me quando penso no quão parecidos nós somos

De facto. No entanto no meio da indefinição do nosso estado lá vou tendo medo dos fantasmas dos amores passados. Embora eu seja a personificação do amor futuro. O pequeno amor é só o início: o embrião de um grande amor. Eu acredito nisso. Sei que, à maneira dela, ela também acredita. Agarrada aos seus medos: ela acredita. Eu não tenho medo de me apresentar como “aquele que acabará com os fantasmas”. Não tenho. Não tenho medo de ser “Vasco da Gama e partir em busca da Índia do meu coração” - como li algures. Ela é a minha Índia. E não há Cabo das Tormentas que me pare, nem Adamastor que me meta medo.

-Tenho saudades tuas

(A minha mãe a chamar-me para jantar)

Eu deitado na cama a ler as mensagens dela e a sorrir. Só para poder sorrir de forma descontrolada.
Eu

-És linda

Ela

-Nós elevamos o expoente da nossa loucura juntos

Eu a sorrir.

-Estou a morrer de saudades tuas

Quilómetros de saudades que nos separam. Eu que já não aguento mais. Um abraço dela. Preciso de um abraço dela.

-Amanhã estamos juntos

A toda a velocidade. Se o vento continuar a soprar a favor, chegamos à Índia, amanhã.

PedRodrigues

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