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quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Tudo acaba (um dia)


No telemóvel nem uma mensagem. Nem uma chamada perdida, ou outra coisa qualquer. Um vazio no ecrã, um vazio por aí. Perco-me de razões com as chamadas que não me fazes, com as mensagens que não me envias, com o desprezo com que me deixas aqui. Tanto tempo que demos um ao outro, tantas vezes que te disse

-Amo-te

Que lhes perco a conta. Não tenho dedos que cheguem para contar todas as vezes que te amei em palavras. Podia multiplicar as mãos, ou os pés, elevar tudo ao máximo expoente possível e mesmo assim não conseguiria dar-te uma resposta concreta. Não te conseguiria dar mais. Nem mais, nem menos. Não que me arrependa. Claro que não me arrependo. Continuo a amar-te porque ninguém desliga os sentimentos no interruptor do coração. Não há uma borracha que apague o que vivemos. Vivemos e ficamos marcados. Somos o produto de todas essas marcas: das boas e das menos boas. No meio daquilo que fizemos e daquilo que deixámos por fazer a única coisa que me custa é o teu silêncio. Custa-me imenso. Não dizes nada, não me dizes nada. Pego no telemóvel de cinco em cinco minutos à tua procura no ecrã: nem uma mensagem, nem uma chamada. Poiso-o novamente e enfio a cara na almofada. Respiro da apneia do coração. Recordo os nossos melhores momentos. Recordo-te a olhar-me entre o brilho elétrico da ternura nos teus olhos, da pele de galinha dos teus braços quando te beijava os ombros despidos, das conversas incessantes até ao amanhecer. Recordo-te a amar-me com todas as tuas forças e recordo-me a amar-te com todas as minhas forças. Fomos bons juntos, ainda somos bons juntos – penso. Se te dissesse

-Amo-te

Esperaria que me retribuísses com um

-Também te amo

Era capaz de ficar a amar-te até o sol se pôr. Era capaz de amar-te até depois do sol nascer. Não sei se o que é bom dura para sempre. Acredito que não dure para sempre. Nada dura para sempre. A verdade é que continuo aqui a esperar-te: todos os dias, a todas as horas. O que é feito de ti? O que é feito da música da tua voz? Onde deixaste o brilho elétrico dos teus olhos? Seguiste sem mim. Seguiste a tua vida sem mim, enquanto eu por aqui fico à espera de uma mensagem tua, ou outra coisa qualquer. Um sinal de que ainda existes na minha vida. Algo que me lembre daquilo que um dia fomos. Que ainda somos esse algo que um dia fomos. Acredito que não me esqueceste, porque não se esquece quem se ama. Como viverei eu sem aquele

-Amo-te

Ao amanhecer. Ou aquele

-Ficas comigo para sempre?

Ao adormecer. E que será feito de mim agora que adormeço sem ti? O telemóvel toca, mas não és tu. O que esconderá o teu silêncio? Por que razão te escondes no teu silêncio? Custa-me o mundo esse silêncio. Acredita quando digo

-Ainda te amo

A meio de uma mensagem. Um dia fomos imensos. Um dia fomos fantásticos. Um dia fomos quase eternos. No entanto, as coisas boas também acabam - um dia.

Pedrodrigues

(Crónica do mês de Agosto na revista Algarve Mais)

10 comentários:

  1. Porque sempre q espreito, parece q tudo o q escreves faz sentido.. Parabens Pedro continua..

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  2. Através de uma amiga descobri este blog...
    Esta palavras são exatamente aquelas que usaria para descrever o que tenho vindo a sentir de à 2 anos para cá.
    =(

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  3. Adorei cada sentido explícito ou implícito. Adorei a verdade contida na emoção. Adorei a função espelho que algumas destas palavras reflectiram...parabéns pela forma como as palavras ilustram os seus pensamentos!
    Marta

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  4. bem...... eu tenho que dar-te os meus parabéns!
    palavras com sentiddo, onde vejo o espelho do que eu mesma sinto....
    através de uma amiga no face descobri este espacinho e estou deliciada

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  5. Ao ler fico arrepiada, choro....Pois é como estar a ler os meus pensamentos, os meus sentimentos.
    Pegar no tlm de minuto a minuto á espera de algo....de algo que pode não a vir-se a repetir, que pode não voltar a ser o que eramos.
    Também eu me pergunto " o que quer dizer esse silêncio" :(
    Ana

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  6. Transmites espetacularmente o que uma pessoa carrega por dentro. Adoro a facilidade com que usas as palavras.
    Parabéns outra vez, Pedro.

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  7. Já li este texto ha um tempo e voltei a ler hoje. E fez tanto sentido. Cada frase lida descreve o que eu sinto, o que eu penso. Vejo o meu reflexo a cada linha, embora doa ler, é, por outro lado, um alívio. Para mim, és grande e a tua escrita mostra a tua grandeza. Cada vez q vejo o teu blog, gosto um pouco mais de o ler.
    Obrigada por partilhares esse talento e essa bela forma de expressar sentimentos
    .

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  8. Vou estar a repetir-me...mas e exatamente aquilo que sinto, e faço. pergunto-me se tens uma grande imaginação ou uma grande dor, espero que a primeira. Parabéns, está lindo mesmo.

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  9. Adoroooo! Muitos Parabéns pela escrita e por tudo que ela transmite.

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