Vivemos numa época de caprichos. O que hoje parece eterno, amanhã já está feito em ruínas. Parecemos andar ao sabor do vento, seguindo o caminho que ele decide, sem nos darmos conta dos danos que causamos aos outros. Num mundo cada vez mais preso à imagem, as pessoas começam a perder conta do que cada uma guarda para lá dos rótulos. No outro dia, ouvia uma história de uma rapariga que tinha acabado de ser trocada pelo rapaz com quem namorava. Vivemos numa época de relações fast food. É triste dizê-lo, mas é verdade. Continuamos a buscar a beleza física, os corpos de ginásio, os bronzes de mil dias de verão, os cabelos bem arranjados, e as roupas elegantes: num mundo de fotocópias, não ousamos procurar o original. Vamos na corrente, seguindo o vento, caindo sempre no mesmo erro. Penso ter sido Einstein que disse “loucura é repetir a mesma acção, vezes sem conta, e esperar um resultado diferente”. Vivemos num mundo de loucos, mas não num mundo de loucura saudável: de amor pelas pequenas coisas, pelos pormenores, de amor pela vida, de vício por pessoas extraordinárias. Vivemos num mundo de loucos que cometem repetidamente o mesmo erro, chorando no final porque o desfecho não foi diferente. Vivemos num mundo de caprichos, repito: procuramos o brilho, como os corvos, mas não nos importamos em tentar distinguir se o brilho é de um diamante, ou de um pedaço de vidro. É triste. Preocupamo-nos com a imagem, esquecemos a essência. E consumimos hoje, para metermos de lado amanhã. Já ninguém se apaixona loucamente. Vivemos na era do desinteresse: nada prende. Talvez porque a beleza física seja uma característica fútil: desvanece com o tempo. Não falo do alto de um pedestal, porque a beleza, em qualquer forma me atrai, mas tento escavar até ao osso. Procurar as cidades perdidas que ninguém vê. Tenho o mau costume de me viciar em pessoas incríveis, que me prendam a elas como Saturno prende as suas luas. Isso sim, é bonito: o que não sabemos explicar e que nos prende por dentro, e nos faz pensar dia e noite naquela pessoa. Mais que a simples fachada que não podemos amar de olhos fechados. Num mundo de consumo imediato, e olhos gulosos: pára um pouco, fecha os olhos. Ousa ser original.
PedRodrigues
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