É terça-feira, e Julho entrou a correr pela vida adentro, como um convidado que, apesar de esperado, entra pela porta de rompante, deixando a casa em pé de guerra.
É de noite, e nem os grilos cantam, nem as pessoas conversam na rua. Apenas um avião se sobrepõe ao tecto de minha casa, levando consigo o descanso do silêncio, obrigando-me a olhar para a parede vazia à minha frente. Por mim passa a ideia de te ver à janela, a olhar a rua, perguntando-te por que razão tentamos dar ordem às coisas: sentidos às estradas, nomes aos lugares, coordenadas às estrelas.
És a coisa mais bonita que já vi, penso. O teu caos ensinou-te a dançar, e tu não te inibiste. Danças sozinha uma música que só tu pareces ouvir e, segundo Nietzsche, talvez todos os outros te julguem maluca. Mas eu não. Eu dou por mim a pensar que talvez seja no teu ouvido que as aves treinam o seu canto. Talvez a tua voz ecoe o som do mar, como um velho búzio deixado a rolar pelas ondas. Os teus olhos lembram-me constelações, cujo nome esqueci porque o espaço é demasiado grande para ser decorado. E é nas ruas do teu corpo que eu procuro me perder, porque não mereces que imponha sentidos, que limite as tuas fronteiras.
A vida passa por nós como um feixe de luz.
E é por isso que te procuro, pelos dias todos, dos meses todos, de todos os anos da minha vida. Penso em ti sempre que olho este espaço em branco, hipnótico, a pedir que invente frases com o teu nome, que o preencha com as tuas cores. Mas o mar não tem limite, já me diziam antigamente. E tu também não, meu amor. Por isso, onde quer que estejas, acusa-te. É Julho, as ruas estão vazias, o silêncio é teu, a minha janela também.
Até já, amor
meu amor.
Pedro
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