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domingo, 16 de dezembro de 2018

A B.

Já não escrevia ébrio há um tempo. E temo que o que vai sair daqui se aparente difuso, sem um fio condutor, uma espécie de catástrofe de letras, sei lá. A verdade é que são 7:07, cheguei de uma longa noite entre amigos, copos entornados, música, risos e palavras gargalhadas. Mas tudo o que me ocupou o tempo foram os olhos dela. Os olhos dela, rasgados, antigos, como pedras ancestrais, basilares. Algo. O começo. A fundação. Os olhos dela que, aparentemente, são uma galáxia distante, algo inalcançável, mas que comigo, a olharem para mim, brilham como estrela, como uma supernova em combustão no espaço sideral. Não vos sei explicar. Sei o que vejo. Sem figuras de estilo. Ela olha-me e os olhos brilham. Nesse momento percebo: ok, estamos aqui. Mesmo depois dos meus medos. Mesmo depois dos medos dela. Eu penso: não sei o que será de nós, mas acredito. E tudo isto é demasiado vago. Demasiado pagão. Não sei. Tudo o que penso é que quero estar com ela. Contar-lhe as idiossincrasias dos meus dias - ouvir as dela. Sei lá. Tudo o que vem neste momento se aparenta difuso - como comecei. Mas é tão real. A imagem dela. Os lábios. Foda-se, os olhos. Aqueles olhos que parecem ter percorrido anos até chegarem aos meus. Estou ébrio e, dentro do perímetro craniano, tudo isto se aparentava mais poético, mais belo. Não sei o que será de nós. Mas espero que seja algo bonito: uma vida, um amor, lábios simbióticos numa eternidade quotidiana. Sei lá. Era isto que te queria dizer. Ou muito mais. Mas, para já, fica isto. E os teus olhos, e o tempo guardado num feixe de luz. Podemos adormecer dentro de um abraço? Conto que sim.
Muito, 
meu amor 


Pedro Rodrigues 

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