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quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Poema número trinta e três

A menina da esquina

Um assobio vadio
Numa esquina por perto
Ao longe uma menina
De passado menos certo
Maquilhagem esborratada
Num olhar quase deserto
Um decote promissor
De um futuro inquieto
Ninguém sabe quem é
Nem lhe pergunta porquê
Ninguém a consegue ver
Nem mesmo quando a vê
Triste fado o dela
Que queria ser artista
Na esquina onde parou
Hoje é trapezista
Às vezes tanto balança
Que acaba por cair
Numa estranha esperança
Continua a sorrir
Sorri entre os dentes
Para ninguém ver
Enquanto ninguém olha
Ela tenta-se esconder
Não sei de onde veio
Nem para onde vai
Não lhe conheço a mãe
Nunca lhe vi o pai
E os carros vão parando
Só para a observar
Perdendo-se nas pernas
Que ela teima em mostrar
Aos homens que passam
Ela não nega o amor
Que tem guardado na algibeira
Para dar por favor
Ao longe vou olhando
E tentando entender
O estranho trapézio
Em que ela se foi meter
Então olho para ela
E começo a cogitar:
Se um dia cair
Também me posso aleijar
E vou assobiando
De nota na mão
Se cairmos os dois
Não passamos do chão.

PedRodrigues

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