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terça-feira, 9 de abril de 2013

As promessas de Terça


As promessas de Terça não têm de ser a realidade de Sexta. As coisas não funcionam assim. Juras de amor? Eventualmente, todos as fazemos. Agora o resto, aquilo que acontece, não está ao alcance de todos. É preciso vontade genuína, coragem genuína e o mais importante: aquilo que tantas vezes nos escapa, mas que é tão crucial: amor genuíno.
 Eles viviam uma dessas histórias de amores desencontrados: ele gostava de Ana, Ana gostava dele, mas ainda nutria de sentimentos por outra pessoa.

-Ele funciona como o marionetista das tuas emoções.

-Eu sei…

-Acho que essa é a minha deixa para partir. – silêncio – Que queres que faça?

-Corta-lhe os fios, por favor…

-Não me cabe apenas a mim cortar-lhe os fios. – um silêncio maior que o anterior – Preciso de saber se é isso que realmente queres.

Ana olhava-o confusa.

-Quero esquecê-lo, mas é difícil. Sempre que ele aparece sinto um aperto no peito. Sinto raiva dele, é um estúpido. – esperneava e esbracejava a cada frase – Mas ao mesmo tempo fico triste quando ele me ignora.

Ele contraía os dedos. Os ossos estalavam à medida que se esmagavam uns nos outros. Uma vontade homicida fervilhava-lhe no sangue. Sentia-se um dos lados de um triângulo escaleno. O menor dos lados. O lado que mais tinha a perder no meio de toda aquela parafernália de fios e marionetas. As emoções de Ana eram ditadas pelas vontades do outro e as emoções dele eram ditadas pelas emoções de Ana. No fundo, ele era a derradeira marioneta. No fundo, era ele quem mais tinha a perder, mas também era ele quem mais vontade tinha de lutar.

-Gosto de ti o suficiente para já não conseguir passar um dia sem te dizer o que quer que seja. Quando às vezes te calas, procuro por algo que me faça lembrar o teu rosto: os teus olhos, os teus lábios, o teu nariz. Quando me faltas, procuro-te. Porque gostar é mesmo isso. E, para mal dos meus pecados, eu gosto de ti. – pegou-lhe na mão e continuou – Se realmente estiveres disposta a apostar em mim, teremos de cortar o mal pela raiz. Não acredito nessa coisa de que um novo amor apaga o anterior. Não creio que as coisas sejam assim. Mas acredito que um amor verdadeiro, um amor genuíno, supera tudo.

-Achas que o que sentimos um pelo outro é um amor desses? Um amor genuíno?

-Se não achasse, já teria partido. E tu, a esta hora, serias apenas uma recordação. Deves sentir o mesmo, porque não te vejo a arredar pé.

A mão dela misturava-se na mão dele: pele com pele, carne com carne, sangue com sangue.

-Realmente já não imagino a minha vida sem ti…

-E o marionetista?

-Cortamos-lhe os fios: em conjunto.

(Beijaram-se.)

As promessas de Terça, às vezes, são a realidade de Sexta.

PedRodrigues

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