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quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Último texto de dois mil e catorze



Peço ao mundo um segundo. Apenas um segundo. Peço-lhe tempo para cumprir os meus desafios, para atravessar a meta. Nada mais. Peço-lhe tempo para aprender a guardar comigo aqueles que amo, para continuar a amar a carne, os ossos, o calor dos abraços, a alegria dos sorrisos partilhados. Tempo para me preparar para o depois. Peço-lhe tempo para o agora. É isso que quero. Quero concentrar-me no agora. Nas noites frias de inverno, entre as mantas, a escrever como um louco sobre os amores passados e a possibilidade dos amores futuros; nas manhãs de primavera, com todas as cores que guardo por dentro como se de um quadro se tratassem; dos finais de tarde de verão, à beira-mar, de pés na água salgada; das promessas de outono que acabam sempre por cair por terra como as folhas secas. Quero concentrar-me neste segundo. Procurar em mim o brilho que ilumina a noite escura. Descobrir o mapa para a índia do meu coração, e partir. Sem medo de me perder pelo caminho – todos nos perdemos; todos nos voltamos a encontrar. Partir em busca da felicidade. Encontrar o meu ponto de equilíbrio. Criar. Ser. Ser um pouco mais. Ser cada vez melhor. Crescer. É isso que quero: crescer. Dar amor. Receber amor. Olhar o infinito e sonhar com o seu final. Inventar. Gritar bem alto, como um louco. Sussurrar ao ouvido: és capaz. Porque realmente sou. Capaz de transformar um momento menos bom, numa oportunidade. Recomeçar. Criar um novo zero, um novo referencial relativo. Encontrar. Novas pessoas, novas cidades, novos mundos. Tingir a folha em branco. Com lágrimas de alegria, com sorrisos que disfarcem a tristeza. Usar este músculo que não se cansa de bater. Não ter medo de eventuais taquicardias. Não ter medo. Ir em frente. Sempre. Olhar para o passado como isso mesmo: algo que passou, que não volta. Olhá-lo como um motor para avançar e não como um motivo para ficar parado. Ao mundo peço apenas um segundo. Apenas um segundo de atenção. Há tanta coisa que nos escapa. Concentramo-nos na tempestade e por vezes esquecemo-nos da bonança.

Só preciso desse segundo.

 
E tu? Que precisas? Já pensaste bem nisso?

 

PedRodrigues

1 comentário:

  1. Preciso de amor. Talvez de amor-próprio. Não me sinto amada, de todo.

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