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segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Outubro


Hei-de ter sempre para ti um lugar entre o pó acumulado ao longo do tempo. Não encaremos esta frase com desprezo, ou outro motivo menor. Hei-de ter para ti um lugar que ficará vazio por dentro, à tua espera; algum amor deixado nas linhas estruturantes de uma cicatriz. Recordar-te-ei como um Outubro em que o sol venceu as chuvas de outono. E com o cair das folhas recordarei, também, as tuas lágrimas, lentas, a fazerem-me pensar “será que é mesmo o fim?”. Nenhum ano acaba em Outubro, nenhuma árvore morre pela queda das folhas no outono. Acredito, portanto, na vinda de uma nova primavera, com as tuas cores e o desenho dos teus olhos a luzirem como duas estrelas no céu limpo de uma noite de verão. E nem todas as palavras que escreva, hoje, amanhã, ou depois, te trarão de volta a este lugar – nem farão justiça ao quanto te amei e guardei, com medo de ficar vulnerável. O adeus tem a frieza do aço a escrever por dentro do peito a saudade. Ainda dói ter-te longe (ou não ter-te, afinal). Como a vida muda. Como tudo vira pó: até o amor. Hei-de ter sempre para ti um lugar. Este lugar.

 

PedRodrigues

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