Naquela tarde o mar estava
sereno. As ondas eram pequenas espumas intermitentes, contando os segundos
entre os gritos dos miúdos que construíam castelos à beira da água. Eu olhava-os
e imaginava salões enormes, feitos de areia molhada e conchas, uma varanda onde
pudéssemos ver o mar de mãos dadas - não só naquela tarde, como em todas as
tardes do resto das nossas vidas. Ali tudo era nosso. O teu nome entre as
rochas, escondido, com medo da subida das águas, seria para sempre essa certeza
dura - mesmo nos dias de tempestade, em que tudo se revolta em tom de batalha.
Mas, naquela serena tarde, estavas tu, de cheiro a mar no cabelo, a contar o
tempo das ondas e a tentar adivinhar quantos horizontes tem o infinito. No céu
nuvens desenhavam formas aleatórias que dizíamos serem coisas concretas:
animais, rostos, máquinas. Tudo se compunha de acordo com a nossa imaginação:
assim fosse a vida. Naquela tarde tudo era nosso. O tempo jogava a nosso favor:
tínhamo-lo todo só para nós. Podíamos moldá-lo à nossa maneira, construí-lo
juntos, como os castelos dos miúdos feitos com a areia molhada. E abrir uma
janela, com uma varanda e vista para o mar, onde nos pudéssemos sentar, até
sermos velhinhos, a inventar formas à teimosia das nuvens.
PedRodrigues
Gosto de ler os teus posts Pedro, mas se pusesses adicionar uma imagem, não achas que embelezava o texto? É só uma sugestão! Não é crítica.
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