Hoje senti necessidade de te escrever.
Agora que não estás e eu me mudei para outra cidade, com cores que já não são
as nossas. Aqui não temos memórias dos nossos dias juntos. Começo um novo
referencial, com novas oportunidades, novos objectivos. Tanta coisa. Tanta
coisa. No entanto, vieste comigo na bagagem. Escondida entre a escova de dentes
e o perfume que me deste. Vieste comigo e não estás aqui. Não faz sentido.
Nenhum. Mas raramente as coisas fazem sentido. Às vezes construímos silêncios
que nos afastam, como se fossem uma distância muito grande; e, no fundo, o que
queremos é apenas um abraço: a necessidade de uma presença embrulhada em nós. Esperneamos,
esmurramos e só queremos uma segurança, algo a que nos possamos agarrar. Olho o
rio da janela, ao fundo, luzes que rompem o vazio da noite, e tudo o que queria
era ter-te aqui. A certeza de uma conversa no mesmo metro quadrado, no mesmo
espaço. Se possível as nossas mãos dadas, ou um olhar. Era isso que queria. Não
estou a pedir muito, ou estou?
PedRodrigues