É Inverno e as folhas já não estão nas
árvores, estão no chão.
Conheci-te na Primavera.
Apareceste de repente, sem aviso, ou razão aparente. Há quem diga que as coisas
boas acontecem assim, de uma forma espontânea. Eu sou uma dessas pessoas.
Meteste conversa comigo usando o tempo como desculpa – eu sei, estou a
exagerar. Comentaste por comentar, nunca com segundas intenções – e ainda bem
que o fizeste. Agradeço todos os dias que o tenhas feito porque, ainda hoje,
essa conversa continua. Vem-se continuando pelos segundos dos minutos das horas
dos dias e dos meses que nos trouxeram até aqui.
Resolvi escrever este texto para te explicar
as razões por que te amo. Poderia dizer que te amo porque não vejo razões para
não te amar, mas estaria a ser redundante. Já to disse mil vezes. Mas não me
importo de to dizer mais mil, ou dez mil, ou cem mil. A verdade é que te trago
tatuada por dentro. Sei que não gostas que fale em tatuagens
-Já és perfeito como és. Para quê
estragar o que é perfeito?
Dizes-me, sempre, no teu jeito
empertigado. Dizes-me e eu guardo a sete chaves num sorriso. Amo-te por isso.
Porque me fazes sentir certo quando julgo que estou errado. Porque me achas
perfeito sabendo que sou um compêndio de defeitos. E amo-te, sobretudo, porque
não tens medo de mo dizer. Mas não é só por isto que te amo. Comecei a amar-te
no dia em que te perdi. Reformulo: comecei a amar-te no dia em que imaginei
como seria perder-te. Imaginei como seria se nunca mais te visse a fumar à
janela, tão senhora de ti; se os teus braços nunca mais se enlaçassem no meu
tronco enquanto cozinho
-Cheira bem.
(Eu orgulhoso)
Se os teus olhos nunca mais
tentassem procurar mundos nos meus; se a tua voz deixasse de ecoar nos meus
ouvidos; se as tuas paranóias e birras deixassem de fazer parte do meu dia a
dia; se a tua mala e as tuas tralhas deixassem de ficar espalhadas pelo chão do
meu quarto; se o teu sorriso deixasse de ser para mim; se os teus beijos
deixassem de fazer um par com os meus; se o teu amor e o meu amor deixassem de
ser o nosso amor. Imaginei tudo isto e tudo isto pode parecer muito pouco. Mas
acredita quando te digo que não é. Gosto de pensar que te tenho para mim. Que
ao fechar os olhos na noite anterior e ao abri-los na manhã seguinte tu
continuarás comigo.
O céu parece desabar lá fora. O
vento teima em abanar tudo. As estações mudam vencidas pelo cansaço do tempo
que passa por nós. Somos uma gota neste oceano. Eu, tu e todos os outros que
vivem no nosso tempo. Daqui a alguns anos seremos recordações. Memórias. Se
tiver(mos) sorte recordar-nos-ão juntos. Não nos imagino um dos grandes amores
da história, mas seremos um dos amores da história. E isso chega-me e faz-me
feliz.
É Inverno e as folhas já não
estão nas árvores. Contigo não sinto necessidade de olhar para baixo à procura
das folhas caídas no chão. Contigo olho o desabrochar das flores e as cores
garridas da Primavera e do Verão. Somos dois errados num mundo que se julga
certo. Quem sabe se juntos não seremos mais que uma simples excepção.
PedRodrigues