Na praia, pouco depois de ler, costumo deitar a cabeça sobre o livro. Não sei o que tento alcançar com isso. Talvez acredite poder absorver a beleza das palavras por osmose, ou algo que me valha. Por hábito cubro o rosto com o braço, tentando anular os efeitos da luz nos meus olhos. Gosto de os reservar para a beleza dos dias aqui, na minha casa de água salgada.
Por vezes, ao ouvir as histórias de quem me rodeia no areal, dou por mim a pensar em assuntos aleatórios, - como agora - sem razão aparente para serem por mim pensados, por não fazerem parte do meu quotidiano, nem dos assuntos dos livros que leio e nos quais repouso a cabeça. Reparo, entrando nessas histórias que não me pertencem, na futilidade em que vivemos imersos. No compêndio de chorrilhos e lugares comuns usados todos os dias, como: o que me interessa na pessoa é a essência. E continuo perplexo a ouvir: mas gosto de um sorriso bonito, e se tiver olhos claros e um corpo de ginásio, melhor. Pasmo-me com a facilidade em tornar a essência numa característica física. A capacidade em transformar o apelativo aos olhos numa incisão na carne em busca da beleza interior. Dizem as mesmas pessoas acabar por cair sempre no mesmo erro: gostar de pessoas que lhes fazem mal. Talvez o interior seja um atributo não trabalhável num ginásio; talvez o carácter, ao contrário dos olhos, não se possa mascarar com lentes de contacto. Não sou de destruir as opiniões de terceiros (já me basta a forma como mino as minhas, e me condeno por, algumas vezes, pensar como penso. Pensar é um verbo que muitas vezes conduz à depressão.), a liberdade é um direito de todos. - Embora muita gente a apregoe, atirando, no entanto, sobre quem tem opinião diferente. Mas continuo a crer, enquanto tento alhear-me da conversa, que a falha está em repetir o mesmo erro vezes sem conta. E o erro está em tentarmos enganar-nos, acreditando não sucumbirmos à nossa natureza enquanto seres fúteis.
PedRodrigues