Olha Beatriz: como o sol recorta a silhueta da cidade, as fachadas antigas dos prédios a namorarem, como se a vida não fosse um sopro e tudo se resumisse a betão e fuligem. Vê como as pessoas passam apressadas por nós, alheias ao fuso horário em que vivemos. Eu e tu não somos mais que pó de estrelas, restos cósmicos, deixados ao acaso e que, durante esse acaso, se encontraram e deram as mãos e formaram uma coisa maior, um corpo celeste, que cresce todos os dias mais um bocadinho. Vês Beatriz? Como os meus olhos se perdem de ternura nos teus; nesses trilhos secretos onde não deixas ninguém entrar com medo que descubram as tuas fragilidades. Mas não somos sempre rocha, Beatriz. Por vezes somos um pouco mais vulneráveis: não somos a faca, somos a carne; não somos o osso, somos o sangue que escorre e cai e se dissipa por todo o lado. Somos isso tudo, Beatriz. Não tenhas medo. Deita a cabeça no meu peito e sente a orquestra que dentro do meu corpo toca para ti - só para ti; sempre para ti. E deixa-me olhar-te enquanto os teus olhos se fecham e a noite cai sobre a cidade imune ao brilho que construímos juntos, aqui dentro, onde as estrelas escolheram repousar.
Imperatriz
Beatriz
Vem
Pedro Rodrigues