Vivemos as nossas vidas em
função de alguns vazios que tentamos preencher: com coisas que não precisamos,
ou pessoas que não amamos verdadeiramente. Esperamos: por algo, ou alguém, no
momento certo. Timing, ao que parece. Tudo se resume a isso. Nem sempre estamos
no sítio certo, à hora certa, com a pessoa certa. Então vamos colecionando
errados. A medo, vamos nadando contra a corrente. Não há salvação possível,
pensamos. Esperar é um verbo que nos consome. Há quem espere uma vida inteira
- Um dia ganho o bilhete da
lotaria.
- Um dia arranjo tempo para
viajar.
- Um dia digo-lhe que a amo.
Hoje não. Amanhã, quem sabe?
Vivemos uma vida inteira à
procura de uma força qualquer que nos faça avançar. Uma energia cinética
interior.
Há tantas possibilidades.
Ensinaram-nos, na escola, a
decifrar as palavras dos poetas. Alheios ao facto dos poetas não escreverem com
as mãos. E não há uma fórmula certa para desmistificar o que dizemos com o coração.
Ao olhar para trás compreendo
a necessidade do erro – cheguei aqui às cavalitas de alguns. Não há fogo que
dure para sempre. Tudo se consome. E quando nos cansamos de nadar contra a
corrente, sem darmos conta, o mar acaba por nos levar até terra. Talvez porque
o tempo de uma onda, aos nossos olhos, é pequeno. Talvez porque o nosso tempo,
aos olhos do mundo, é pequeno.
Uma folha em branco tem
imensas possibilidades.
Chegamos ao topo da montanha,
começando do chão.
PedRodrigues