Acho
engraçado que tudo tenha começado com uma entrevista. Ela tinha um trabalho da
faculdade para entregar, eu ia lançar o meu primeiro livro. Marcámos encontro
no Justiça e Paz, com uma vista lindíssima sobre o Mondego. A conversa foi tão
boa que acabámos por trocar os nossos números de telemóvel.
Como tínhamos amigos em comum, o primeiro jantar surgiu naturalmente. Daí ao primeiro beijo não demorou muito. Ela achava piada ao que eu dizia, eu gostava bastante da forma alegre como ela encarava a vida: o sorriso dela e o brilho nos olhos não enganavam. As conversas foram ficando mais longas, as noites dormidas ficando cada vez mais curtas. Com ela conseguia falar de tudo: desde futebol, a literatura, passando pelas engenharias e outras coisas mais aborrecidas das nossas vidas em Coimbra. Acho que era essa diversidade que nos unia. Isso e o meu bom gosto em relação a sapatilhas, aliado à coincidência de ter escrito uma frase, num pedaço de papel, que ela ainda hoje usa como mantra: "Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.". Tudo isto nos juntou e nos foi levando juntos ao longo do tempo. Acabámos os dois em Lisboa, a apalpar aos poucos a cidade. Demos longos passeios de mãos dadas, passámos noites de inverno abraçados a ver filmes e séries, tivemos dias bons, outros menos bons, o habitual. Nunca a pedi em namoro, e talvez esse tenha sido um dos meus grandes erros. Achava que o que existia entre nós não precisava de um título, como um romance. Tínhamos o mais importante: o coração no sítio e os pés assentes no chão. Achava. Mas a vida prega-nos partidas. Os sorrisos duram até serem lágrimas e, segundo ela, gostar, por vezes, não chega. Eventualmente as entrevistas chegam ao fim - mesmo as melhores. Não raras vezes, as relações resumem-se a um jogo de memória e ao amor numa garrafa. Apesar de tudo, ainda acredito que um dia possamos retomar de onde ficámos. Não sei. Até lá vou recordando a cor lindíssima daquele final de tarde, onde tudo começou. E o sorriso dela, e o brilho daqueles olhos de menina feliz com a voz rouca: "podemos começar?". Quando quiseres. Começamos quando quiseres.
Como tínhamos amigos em comum, o primeiro jantar surgiu naturalmente. Daí ao primeiro beijo não demorou muito. Ela achava piada ao que eu dizia, eu gostava bastante da forma alegre como ela encarava a vida: o sorriso dela e o brilho nos olhos não enganavam. As conversas foram ficando mais longas, as noites dormidas ficando cada vez mais curtas. Com ela conseguia falar de tudo: desde futebol, a literatura, passando pelas engenharias e outras coisas mais aborrecidas das nossas vidas em Coimbra. Acho que era essa diversidade que nos unia. Isso e o meu bom gosto em relação a sapatilhas, aliado à coincidência de ter escrito uma frase, num pedaço de papel, que ela ainda hoje usa como mantra: "Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.". Tudo isto nos juntou e nos foi levando juntos ao longo do tempo. Acabámos os dois em Lisboa, a apalpar aos poucos a cidade. Demos longos passeios de mãos dadas, passámos noites de inverno abraçados a ver filmes e séries, tivemos dias bons, outros menos bons, o habitual. Nunca a pedi em namoro, e talvez esse tenha sido um dos meus grandes erros. Achava que o que existia entre nós não precisava de um título, como um romance. Tínhamos o mais importante: o coração no sítio e os pés assentes no chão. Achava. Mas a vida prega-nos partidas. Os sorrisos duram até serem lágrimas e, segundo ela, gostar, por vezes, não chega. Eventualmente as entrevistas chegam ao fim - mesmo as melhores. Não raras vezes, as relações resumem-se a um jogo de memória e ao amor numa garrafa. Apesar de tudo, ainda acredito que um dia possamos retomar de onde ficámos. Não sei. Até lá vou recordando a cor lindíssima daquele final de tarde, onde tudo começou. E o sorriso dela, e o brilho daqueles olhos de menina feliz com a voz rouca: "podemos começar?". Quando quiseres. Começamos quando quiseres.
PedRodrigues