Se te
pedissem para escreveres, escrevias? Se te pedissem mesmo, com muita vontade,
com vontade genuína, com alguma esperança, – nem muita, nem pouca – se te
pedissem mesmo, com um brilho nos olhos, cientes que compreendes, que sabes,
que inventas por já teres vivido, por estares, se te pedissem mesmo, escrevias?
Se te
pedissem para ficares, ficavas? Se te pedissem
- Não vás!
Por favor, fica!
Com a
certeza que são capazes de te obrigar a ficar porque te pedem. Se te pedissem
com todas as palavras que sabem, com toda a vontade que têm, ficavas?
Pergunta a
ti mesmo: acreditas? Acreditas em ti? Acreditas que és capaz? Acreditas que
podes, mesmo quando levas um murro no estômago, mesmo quando tudo parece não
fazer sentido, mesmo quando a sorte te parece fugir entre os dedos, – ou o azar
parece atropelar-te de propósito – mesmo quando choras por algo ou alguém,
acreditas? Pergunta a ti mesmo: acreditas? Acreditas que o amor é a cura para
toda esta merda? Acreditas que um sorriso daqueles que gostas, daqueles que
amas, pode mudar o teu dia? Acreditas que o sol e a lua e as estrelas são
feitos de átomos e de matéria que não é matéria, ou talvez seja, e que nós
vivemos aqui e somos parte dessa matéria e amamo-nos porque os átomos vivem de
átomos e tudo na vida está ligado? Compreendes? Acreditas que somos o racional
e o irracional, tudo muito bem misturado
-Não entendo
como posso gostar de alguém assim.
Ou
-Agora que
não te tenho, fazes-me falta.
Uma salada
russa de paradoxos. Um compêndio de vontades estranhas. Um
-Não
entendo.
Cheio de
certezas duvidosas. Entendes esta coisa de que a vida é como um Lego, e cada dia
é uma peça, e todos os dias, durante toda a tua vida, tu vais sendo construído.
Entendes isso? Já pensaste nisso quando te deitas com a cabeça na almofada? Já
deste o teu melhor e pensaste que estavas lá, que chegaste lá, que depois disto
só o céu? Já chegaste lá e percebeste que afinal o céu não é o limite, que te
podes superar sempre? Já pensaste que depois de lá chegares, de atingires o
teu máximo, só podes descer? Já pensaste bem nisso?
Se te
pedirem para amares, amas mesmo? Brincas ao amor? Não brinques ao amor. Diz-lhe
-Ter-te sem
te ter. Querer-te sem te tocar. Sentir-te quando não estás. Amar-te mesmo
assim, porque não vejo razões para não te amar.
Às vezes é
só isto que as pessoas querem ouvir
-Não vejo
razões para não te amar.
Não custa
nada seres sincero. Não custa nada amares de tripas de fora – como ama quem
realmente ama. Não custa nada olhares alguém nos olhos e dizeres
-É de ti que
gosto.
Não custa
nada. Permite-te ser feliz. Faz alguém feliz. Não vivas uma vida de enganos e
enredos e novelas amorosas. Não espalhes o “quase amor”. Não existe o “quase
amor”: ou é amor, ou é outra coisa. Não sejas um malabarista das palavras, um
prostituto dos sentimentos, não inventes se não sabes, se não sentes, se não
entendes. Não digas que fazes para não te magoares. Não digas que tens de ser
porque já sentiste e já sofreste e já choraste e já estiveste na merda.
Acontece a todos, mas a vida continua. Uma coisa que fui aprendendo: depois de
um pequeno amor, há um grande amor. Os romances vão e vêm como as estações. Mas
o amor, o verdadeiro amor, é como o sol. Mesmo quando está atrás das nuvens, o
sol não deixa de ser sol. Já reparaste?
Lembra-te
disto. Lembra-te de mim. Lembra-te de tudo aquilo que te trouxe até aqui. Hoje
sou eu que te escrevo. Amanhã és tu que me lês. É esta sucessão das coisas que
te deve fazer acreditar. Acredita que hoje és feliz, e amanhã lembra-te: hoje é
um bom dia para voltar a ser feliz.
PedRodrigues