São
as mais fantásticas criaturas do universo e nós temos a sorte de partilhar o
mesmo espaço que elas. No entanto…
São
umas chatas do pior e não nos deixam ver o futebol em paz. São bipolares como o
caraças e nunca estão satisfeitas com nada. São mestres do disfarce: têm sempre
uma máscara para quem não gostam. Têm opinião sobre tudo, mesmo quando não
entendem nada do assunto. Conseguem engordar-nos de mimos ao jantar e matar-nos
de problemas ao deitar – ou vice-versa. São estranhas, problemáticas, caóticas.
Metem o dedo na ferida como ninguém, e se possível vão até ao osso. Têm prazer
em ver-nos sofrer quando estamos doentes, ou quando teimam em nos espremer as
borbulhas e os pontos negros
-Tem
calma, está quase
(De
sorriso sádico na cara)
-
Não sejas maricas
Enquanto
nós, por outro lado, nos vamos contorcendo no meio de toda aquela carnificina.
Para elas somos uns piegas, uns meninos da mamã, uns mariquinhas pé de salsa.
Somos um compêndio de defeitos e coisas más. Nunca estamos bem, mesmo quando
estamos bem. Nunca estamos no sítio certo, mesmo quando estamos no sítio certo.
Não as compreendemos, nem temos um pingo de compaixão por elas. Não lhes
distinguimos o
-Não…
Quando
o
-Não…
Quer
dizer
-Sim!
Trocam-nos
as voltas com uma facilidade sobrenatural. Acabam onde começam e começam onde
acabam. Amam-nos quando somos bons e não deixam de nos amar quando somos maus.
Choram de alegria e sorriem de tristeza. São estranhas. Tanto nos esmurram o
peito, como se aninham no nosso ombro. Olham-nos com vontades homicidas quando
nos enganamos em coisas triviais. Mutilam-nos mentalmente quando nos esquecemos
de coisas banais. Para nossa sorte gostam de artigos defeituosos. Queixam-se
que se danam. Berram, insultam, esbofeteiam, esperneiam. Caminham sempre no
limbo entre a bonança e a tempestade. São perfeitas nos defeitos e nós pecamos
por não lhes dizer que o são. Trabalham numa frequência diferente da nossa, mas
procuram sempre a sintonia. Esbofeteiam, esperneiam, berram e insultam. Felizmente
para nós acreditam em histórias de princesas. Infelizmente para elas, nem todos
os sapos escondem um príncipe. Inventaram aquele momento em que os olhares se
misturam e os lábios tremelicam, aquele momento em que no meio de beijos e abraços,
faça chuva ou faça sol, solta-se um
-Amo-te
Abafado
entre lágrimas e sorrisos e um silêncio apavorante.
(Na
expectativa de um
-Eu também te amo)
Inventaram
os amores de cinema, de telenovela e da vida real. Inventaram o amor, ou o amor
foi inventado a partir delas. Felizmente para nós, gostam de artigos
defeituosos. Talvez por isso se diga que todos os cães têm sorte.
PedRodrigues