Não
querias o amor. Nunca procuraste o amor. Mas ele, teimoso, teimava em
encontrar-te. Julgaste que lhe podias fugir. Que conseguias correr mais que
ele. Um dia ele cansa-se, pensavas. O amor não se cansa – ao contrário de ti. E
inventaste línguas para não dizeres o amor. Inventaste países para te
refugiares e viveres de ti. Declaraste guerras a quem passava as tuas fronteiras.
Renunciaste o gemido excitante do toque no corpo; o arrepio do orgasmo.
Renunciaste a verdade escondida atrás dos lábios. Reinventaste o tempo para que
nunca fosse o momento certo, o minuto certo. Quiseste com todas as forças que
nada fosse como nos filmes do cinema. Apagaste todas as luzes para que não
pudesses ver as caras que apaixonam. Calaste as vozes que gritavam dentro de ti
e te pediam companhia. Tornaste-te cega e surda e muda. Quem não vê, quem não
ouve e quem não diz, não pode amar, pensavas tu. Achavas que não havia mérito em
jogos viciados. Achavas que o amor era um jogo viciado: perdias sempre. Não
havia esperança. Um dia ele cansa-se, pensavas tu. Mas o amor não se cansa, já
te disse. O amor encontra-te. E podes esconder-te na neblina da cidade, podes
caminhar pelas ruas vazias de cabeça baixa, um dia ele encontra-te. Um dia o
relógio marcará a hora certa. Levanta a cabeça, olha em frente: já está.
PedRodrigues