Sabes o mais engraçado? No
outro dia encontrei o postal de Natal que me deste no ano passado. Estava
dentro do “os transparentes” do Ondjaki. Foi uma daquelas coincidências macabras
a que muitos chamam destino. Não sei se foi ou não. Talvez haja realmente uma força dinâmica qualquer
que nos empurra uns para os outros e mexe certas peças, em certos momentos. Isso
pouco importa. O facto é que ele lá estava, guardado religiosamente dentro
daquele livro. Estava lá de forma a recordar-me de ti e da página onde tinha
ficado. Passou praticamente um ano. Onze meses e uns dias, para ser mais
exacto, que nestas coisas a precisão é importante. Onze meses desde que
escreveste “o próximo ano será ainda melhor, porque as pessoas boas merecem ser
felizes” (estou a citar-te de memória, por isso posso ter falhado em alguma
palavra). No dia em que escreveste esta frase fazias planos de um futuro ao meu
lado, um futuro com mais de onze meses, creio. Mas o tempo passa e, pelos
vistos, as pessoas cansam-se e desgastam-se. Não sei se deixei de ser bom, ou
se o destino, ou a tal força dinâmica, se encarregou de nos afastar para que
pudéssemos sentir a falta um do outro. Se assim foi, agradeço que ela acabe com
a brincadeira, porque realmente as saudades são imensas e o coração parece
apertar cá dentro. Não sei se sentes da mesma forma. Os meus postais, ou as
minhas dedicatórias nos teus livros sempre foram frouxas. Talvez tivesse medo
que te apaixonasses por elas, pelo Pedro que escreve, o que todas imaginam ser
um príncipe encantado, e depois te apercebesses que o Pedro é de carne e osso e
muita confusão: com muitos defeitos e algumas virtudes. Embora nunca te tenha
dito, escrevi muito para ti, e sobre ti. Como podia não o fazer? A nova versão
do livro trará o teu capítulo. A dedicatória que mereces. O teu espaço continua
guardado: dentro dos livros e dentro do peito. Já disse e repito: se puderes,
não demores.
PedRodrigues