Chegámos aqui. Somos o produto
de gerações atrás de gerações desde o início dos tempos. Tudo o que nos rodeia
se transforma. O tempo é nosso, assim como foi de todos os outros, um dia. As
estruturas evoluem, as máquinas evoluem, as sociedades evoluem. Todas ao seu
ritmo, levando o seu tempo. A insatisfação obriga-nos a avançar.
Chegado a estes dias, olho
para as pessoas com uma desconfiança terrível. O mundo está aí, diante dos
nossos olhos. A evolução tecnológica, disseram-nos, iria libertar-nos do marasmo
da ignorância. Seria esta, de certa forma, a resposta para todas as dúvidas.
Disseram-nos que teríamos o mundo na ponta dos dedos, à distância de um clique.
E temos. Aquilo que nos esquecemos é que atrás da máquina está a vontade do
homem. A vontade de conhecer é uma energia demasiado complexa para caber numa
máquina. Cabe, a cada um de nós, encontrar essa vontade de rumar ao
desconhecido, em busca dessa Índia perdida. Ao que parece, não é fácil. Cada
vez mais nos afastamos da cultura, como se fosse um cancro que nos irá consumir
lentamente. Não sei quem culpar: se a nós mesmos, se aos meios de comunicação
social e o poder político (que ao ouvir a palavra cultura treme de medo). Todos
os dias a língua portuguesa é espezinhada pelo uso de expressões ocas e frases
mal construídas. O pretérito confunde-se com o presente e, no entretanto, os
nossos antepassados revoltam-se connosco. Pergunto-me o que pensariam Camões,
Bocage, Fernando Pessoa, se hoje vivessem nesta era digital.
Tenho o maior orgulho em fazer
parte do povo que descobriu o mundo. Tenho o maior orgulho na beleza das
palavras escritas no nosso português. E se inventássemos esse mar de volta?
Medo. O meu medo é este: a
desumanização. Olhemos em volta. Há tantas desgraças tão perto de nós e, no
entanto, preocupamo-nos mais com os problemas de alguém que não conhecemos e
que nos pede ajuda pelo Facebook e esquecemo-nos das pessoas que estão ao
alcance dos nossos olhos, dos nossos actos e que, igualmente, precisam da nossa
ajuda. Ao que parece, há um agravamento exponencial das desgraças quando
acontecem atrás de um ecrã.
Sigamos na esperança dessa
insatisfação que parece ser o motor dos povos. Conscientes da nossa ignorância,
não como uma bênção, mas como um catalisador. Sigamos em frente de coração na
mão, atentos ao que nos rodeia e a tudo o que acontece. O mundo é isso mesmo,
não é? E não nos esqueçamos dessa verdade universal: deste lado, os olhos
também choram. Não?
PedRodrigues