A frase é de uma das minhas séries favoritas: Californication. É dita pelo amor da vida do protagonista, Hank Moody, um escritor que em muito se assemelha a uma personagem dos livros de Bukowski.
Recordo várias vezes esta frase, quando penso na definição de romântico. Para muitos, um romântico é uma personagem mística, uma espécie de unicórnio que vê o amor em todas as coisas. Há muita gente que diz que sou uma pessoa romântica. Dizem-no tendo por base o que escrevo e criam uma imagem de um ser acima de todas as tentações, acima de tudo o que não tem as sete cores do amor. Por vezes, também me imagino assim. Costumo tentar poetizar as coisas: tornar o que vejo em poesia. Nem sempre é possível. Às vezes, ao saírem, as palavras oxidam. Tornam-se feias.
Quando estou apaixonado gosto de escrever sobre e para a pessoa por quem me apaixonei. Nesse momento, não há este, nem oeste. Somos nós no centro e tudo o resto se torna ruído. Mas nem sempre vivemos sobre um céu azul. Há nuvens de tempestade. Há o depois. E nesse entretanto, nesse espaço vazio, há tentações em forma de gente, de palavras carinhosas, de vontades. Dou por mim, por vezes, a pensar: serei menos romântico por ceder à tentação da carne? Não creio. Estou sozinho (solteiro) há dois anos e as tentações multiplicam-se. Há quem me aborde, puxando o lado irracional, procurando apenas a minha carne. Serei pior pessoa por ceder à tentação? Por apenas ser uma contraparte numa noite de sexo? Serei menos romântico? Penso que não, porque acabarei sempre a ver o mundo pelo mesmo filtro. E escrever o mundo e o que vejo da mesma forma.
Bukowski era, para mim, uma pessoa romântica. Apesar de muitos o classificarem como um niilista, um misoginista, para mim era uma pessoa com uma visão romântica do mundo. Acho que todos os grandes românticos da história eram - são - pessoas danificadas por dentro. Partidas. Nem todas as pessoas têm a sorte de encontrar o grande amor da sua vida à primeira tentativa. E, mesmo nos casos em que encontram à primeira, nem sempre essas pessoas ficam juntas até ao fim das suas vidas. O que é importante reter e repetir é a ideia que, no momento em que essas pessoas se encontram, no momento em que estão juntas e vivem esse amor, sejam apenas uma e a outra contra o mundo. É isso, para mim, a definição de romântico: alguém que no momento do amor, no meio de um céu cheio de estrelas, olha apenas para a lua.
(Isto parece um daqueles textos dos gurus da auto-ajuda, mas era algo que me estava a atormentar.)
Pedro Rodrigues