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domingo, 11 de agosto de 2013

Croniquinha egocêntrica

Sinceramente? Sou bom. Sou o melhor. Sou o tal. Sinceramente? Não há quem me ganhe. Não há quem me derrube. Não há. Eu sou o melhor. Sou Deus. Sou os homens. Sou aquilo que acontece e que vejo e que se derruba nas horas que teimam em passar. Sou. Não me nego. Embarco. Se tiver de chorar? Foda-se, choro. Limpo as lágrimas, olho o mundo, penso: não deixarei nada por fazer. Paro. É mentira. Deixarei tanto por fazer… Mas farei muito. Farei mais que todos os outros. Serei mais, serei melhor, serei eterno. Sou aquilo que posso ser. Aquilo que me permito ser. Sou a dor do actos. A angústia da espera. Sou a bílis da incerteza. O vómito carne do desespero. Sou o não saber. Sou o amor. Sou aquilo que amo e quem amo. Tudo junto.  Sou os mexericos, a merda que sai de boca em boca, a consequência de ser algo ou alguém. Sou como devo ser e não me multiplico em aventuras utópicas. Amo-me  e sei por que razão me devo amar. Sou uma pedra em muitos sapatos. Sou uma pedra partida em vários sapatos. Sou dores no corpo. Aquele sorvedouro e aquele aperto miudinho no peito. Sou o bom e o mau. O vilão e o herói. Tenho ondas de palavras e espero ansioso pelas marés. Vejo-me e entrego-me a mim. Espero pelas balas do escárnio. Pelas setas da inveja. Espero como um homem. Espero de peito feito com coragem. Amo-me hoje e detesto-me amanhã. Mas amo-me. Gosto de mim, porque é bom ser quem sou. E eu sou tão bom. Se me pudessem ver como sou, escreveriam histórias eternas. Se me pudessem ver como sou, fariam de mim quem todos esperam que seja. Mas eu sou. Porque devo isso a mim. E se eu não for, mais ninguém será. Olho-me e vejo-me e sonho-me. Um dia serei quem devo ser. Amanhã talvez seja quem devo ser.


PedRodrigues

1 comentário:

  1. Fantástico como sempre.Mas difícil, muito difícil chegar a esse patamar de inteligência emocional.

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