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segunda-feira, 22 de julho de 2013

Finais felizes (5)


Somos aquilo que o mundo convencionou como um final feliz. Somos a primeira pessoa do plural. Amamo-nos na bonança e não deixamos de nos amar na tempestade. Quando não estamos juntos, temos saudades. Tentamos diminuir a distância a todo o custo: conversamos horas ao telemóvel, trocamos fotos dos nossos dias, abusamos dos beijos virtuais e das juras de amor. Quando estamos juntos o mundo parece diluir-se à nossa volta. Somos felizes, porque a felicidade deve ser este sentimento de parecermos indestrutíveis, à prova de bala, de tempestade e de tudo. Ser feliz deve ser esta coisa de nos rirmos com o corpo todo. Deve ser o sorriso dela e o meu sorriso, ambos, misturados. Deve ser este gosto pelas pequenas coisas, pelos pequenos gestos, por tudo aquilo que parece trivial e banal e mundano. Deve ser
-Eu amo-te – estas palavras ditas com sinceridade e recebidas com sinceridade. Porque a felicidade é um sentimento sincero. É uma condição de ser e de estar sincero. É dizer
-És linda. – sem a necessidade de ouvir algo de volta. É saber que somos porque há palavras no silêncio. Saber partilhar o silêncio e saber conversar no silêncio. Amar de olhares fundidos num só. Aprender todos os dias, ou melhor: querer aprender todos os dias: cada expressão, cada gesto, cada palavra. Porque o amor obriga-nos a querer aprender com a pessoa amada.
-Achas que temos o que é preciso para sermos felizes?
(Silêncio)
-Tu és o que preciso para ser feliz.
(Sorriso)
-E quem me garante que amanhã não mudas de ideias? Quem me garante que daqui a alguns anos não sou o teu passado?
-Quem te garante que daqui a alguns anos não és o grande amor da minha vida?
São estas dúvidas que nos fazem continuar. São estas dúvidas que nos fazem querer acordar todos os dias ao lado um do outro e dizer baixinho
-Continuas a ser o amor da minha vida. – dizermos isto com a certeza absoluta de que as coisas são mesmo assim e que o contrário seria impossível. Porque na realidade ainda há finais felizes.
-Acreditas em finais felizes?
-Acredito. E tu?
-Digo-te e repito-te: és o meu final feliz.
Há finais felizes nos filmes, nos livros, nas músicas. Há aqueles que defendem que não há finais felizes porque entendem a expressão como uma contradição. Há os céticos, os snobes do amor, os filósofos das relações. Há toda uma cambada de artistas que nos fazem duvidar. É normal. Mas eu continuo o tolo que acredita em finais felizes. Ela fez-me acreditar nisso. Ela fez-me acreditar que, a cada entretanto que passamos juntos, vivemos um final feliz. E todos os dias lhe agradeço por isso.


PedRodrigues

3 comentários:

  1. Fantástico! Quero um homem como tu para meu companheiro de vida... Acho que é o que todas as mulheres querem, um homem sensível e que não tem medo de demonstrar e dizer aquilo que sente. És apaixonante, diria...

    Tudo o que escreves é como se fosse um pedaço de cada leitor. Revejo-me um pouco em todos os teus textos. Continua assim.

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