Dei
por mim levado pela maré dos amores de Verão. Apaixonei-me dezenas de vezes.
Descobri que, afinal, se nos permitirmos, podemos ser felizes. Descobri que a
adrenalina da busca se torna num afrodisíaco poderoso. Apaixonei-me por todo o
tipo de mulheres. Partilhei várias conversas de cabeceira. Expus os meus medos
e ouvi os medos delas. Algumas vezes partilhávamos os mesmos medos.
Alertavam-me que já não acreditavam no amor. Que tinham desistido de procurar o
homem certo
-São
todos uns cabrões. Desculpa, mas são. – eu ouvia atentamente e por vezes
calava-me a olhar para lado nenhum. Outras vezes respondia
-Nós
somos uma espécie de máquina de gerar insatisfação. Estamos errados, mesmo
quando estamos certos. A meu ver, nem tu podes dizer que todos os homens são
cabrões, nem eu posso dizer que todas as mulheres são um veneno. Há biliões de
pessoas em todo o mundo, como é que podemos dizer que aquilo que conhecemos é
uma regra? Não podemos. Eu acredito que a pessoa certa para mim está por aí e
quando a encontrar o resto será só isso mesmo: o resto. Nós fomos formatados
para encaixar em alguém. Tudo na vida se resume a um par. Pode parecer uma
filosofia barata, mas é nisto que acredito. – algumas olhavam-me com
desconfiança, como se soubesse realmente de algo que elas não sabiam. Não
sabia, apenas acreditava e acredito no amor. Sempre tive quem olhasse de lado
para mim por acreditar no romantismo como uma forma de vida, mas isso nunca me
interessou. Era a minha forma de encarar a vida, a minha forma de estar cá e
sentir que vale a pena estar cá.
Procurar.
A nossa vida é uma procura constante: pelo amor, pela felicidade, pelo
sentimento de plenitude, por algo, por alguém. Somos aquilo que procuramos.
Somos o produto daquilo que procuramos. Somos poesia em forma de ossos e de
carne e de confusão. Às vezes dou por mim à deriva – aliás, como agora. Dou por
mim mais confusão que carne e que ossos. Porque é essa confusão que nos faz
avançar. É essa confusão que nos faz procurar. E eu tenho procurado.
-Ela
pode estar em qualquer lado. Quem me garante que já não esbarrámos um no outro?
– dizia eu numa dessas noites de conversa com os amigos.
-Ninguém
te pode garantir isso.
É
esta a verdadeira piada da busca, da procura, da jornada: a incerteza. O não
saber se chegámos à Índia, ou ao Brasil. Se há terra à vista, ou se estamos
encalhados no meio do nada. É o não saber. É o sentir um par de olhos na nossa
direcção. Sentir esses olhos nos nossos olhos: a lerem-nos a alma. Porque é
esta a coisa engraçada dos olhos: lêem a alma. Entender nos lábios
-É
giro. Vai falar com ele.
Sentirmos
que somos o “ele” que os lábios gesticulam. Sentirmos e sermos. Olharmos para
ela e pensarmos baixinho como que às escondidas de nós mesmos: “Vem falar
comigo. Por favor, vem falar comigo.” Esperarmos no nosso canto, isolados dos
nossos amigos. Ficar? Avançar? Que fazer? Deixarmo-nos envolver pelo momento e
pelo tom moreno hipnotizante da pele. E cegos de razões, talvez fulminados pelo
brilho avelã do olhar, seguirmos em frente – sem medo.
-Quem
me garante que não és tu?
-Devo
ser eu.
-Espero
que sejas tu.
-É
agora que me dizes que és o homem da minha vida?
-Não,
é agora que te digo que és a mulher da minha.
Na diversidade dos seres há sempre procura. Uns de uma forma, outros de outra, todos procuramos. E o equilíbrio vem quando a procura interseta uma outra curva de procura. É aí que nos tornamos Vascos da Gama ou Pedros Álvares Cabral com todo um mundo a descobrir e contemplar.
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