Todos os momentos singulares me
trouxeram até aqui. Aqui estou. Olho para trás e percebo cada segundo vivido,
cada escolha feita, cada caminho não percorrido. Penso para mim
-E se...
Relembro os passos em falso.
Relembro as consequências de vários erros. Relembro as lágrimas dos insucessos,
os nervos dos quase sucessos, o caos dos falhanços à queima roupa. Todos os
momentos singulares me trouxeram até aqui. Todos os murros me trouxeram até
aqui. Aqui estou. Cerro os dentes, esperneio um pouco, olho o grande plano que
me está reservado. Corre-me sangue nas veias. Correm-me sentimentos no papel.
Sou um produto inacabado. Sempre serei. Serei sempre. Deixarei para trás um
arquipélago de palavras e de noites mal dormidas. Às vezes dou por mim a pensar
-E se tiver perdido a capacidade
de criar?
Imagino-me um Hemingway debruçado
sobre um mar de textos antigos, de arma na mão à espera de uma intervenção
divina: a escrita, ou a morte. E ao imaginar esse cenário compreendo que
escrever é o acto de morrer e viver através das palavras. É o acto de exprimir
os sentimentos, despertar os corações mais adormecidos. Escrever é dar vida aos
que se julgam mortos. É dar voz a quem se julga mudo. É dar a mão a quem se
sente sozinho. Escrever é isto. Escrever é estar aqui, com a televisão em
silêncio a dar-me luz, enquanto passo a limpo aquilo que sinto. Escrever é
estar aqui. Aqui estou. Espero estar sempre. Este é o caminho
-E se não for?
Este é o caminho. Esta é a ordem
natural das coisas. Escrever. Escrever palavras. Escrever silêncios. Mesmo
quando a mão teima em estar paralisada. Mesmo quando a mente teima em ficar
vazia. Mesmo quando a inspiração me manda à merda. Todos os momentos me
trouxeram até aqui. E neste momento em que me encaro a mim mesmo, no meu estado
mais vulnerável, dizer-me
“Ontem não te vi em Babilónia e
hoje gostava muito de te lá ver.”
PedRodrigues
Amei!
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