O que mais me atraía nela não
era o sorriso cor de pérola, ou a forma como lançava uma gargalhada fácil nas
situações mais embaraçosas. Não era sequer a forma como por vezes me olhava:
perdida em não sei quantas concepções e cenários românticos montados por
dentro. Há mistérios que não têm solução. Silêncios que pertencem ao silêncio e
não podem ser quebrados. Creio que era isso que mais me prendia a ela. Esse
mistério. Como por exemplo, a sua cor favorita serem as ondas. Ou tudo aquilo
que não fazia parte desta geração, tudo aquilo que não era do nosso tempo, lhe
assentar como uma luva. Há pessoas assim: incomuns. Gentes curvas, num mundo
recto. Feitas de pequenas partes de matéria, que parecem não fazer qualquer
sentido e, no entanto, arrastam-nos e absorvem-nos como se fossem uma
necessidade que precisamos de satisfazer. Ela era uma dessas pessoas.
PedRodrigues
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